No dia 05 de junho tive a oportunidade de falar no primeiro encontro de Astrobiologia da UFRRJ. Participei de uma mesa redonda sobre ficção científica e vida extraterrestre. Achei interessante transformar a palestra em um texto. Contudo, é muita coisa pra falar. Por isso vou fazer isso em duas partes. Neste artigo vou dar uma introdução ao assunto e falarei dos Extraterrestres Bonzinhos. Espero que gostem.
Arte Extraterrestre…
Caetano Veloso dizia em uma canção de 1979 :
“…aqui só se voa com duas asas
Com a asa da fé e com a asa da ciência
Quem voar sem nenhuma das duas
Vai cair e se arrebentar”
Certamente o autor estava falando de um visão alternativa à fé e à ciência: a arte. É lógico que a linguagem artística é bem diferente da linguagem cientifica (ou religiosa), mas trata das mesmas questões, daquela pergunta que não quer calar: Estamos sós no Universo? Existe vida extraterrestre?
Mitologia Extraterrestre
Esta pergunta mexe demais conosco. Com medos e esperanças. Dificilmente temos a isenção psicológica para pensar nestes seres celestes como indiferentes ou semelhantes a nós. Existe um misto de emoções fervilhantes diante da possibilidade de vida extraterrestre, sobretudo vida inteligente. Diante do pouco que se sabe realmente sobre o assunto e o enorme volume de possibilidades, surgem mitos e devaneios. Esperança, medo e curiosidade se misturam em nossa mente. Ora racionalmente, ora emotivamente, os seres extraterrestres nos fascinam, apavoram e estimulam. Nas esquinas entre fatos e ficção, tem espaço pra muita coisa que a imaginação cria sem limites.
Como a TELONA e a TELINHA retrataram a vida extraterrestre?
O ser humano imaginou “moradores das estrelas” desde muito tempo. As vezes eram deuses, anjos ou demônios. Narrativas orais e escritas têm descrito estes seres desde eras imemoriais. Mas recentemente foram as linguagens cinematográficas e televisivas que mais atualizaram, de forma massiva, estas narrativas. As mentes curiosas de nosso século estão cheias de imagens de extraterrestres.
O primeiro filme produzido e exibido para um público não foi “exatamente” o que chamaríamos de cinema. Os irmãos Lumière inventaram o cinematógrafo em 1896, mas eles não fizeram cinema, pelo menso não cinema com arte. Eles filmaram um trem chegando a uma estação: não era nem um documentário ainda. No máximo um registro que causou algum pânico na plateia inicial. Foi exatamente o primeiro cineasta, George Miélès, o primeiro a fazer um filme sobre alienígenas: Voyage Dans la Lune (1910) , sua versão de dois livros clássicos/geminais da ficção cientifica, Da Terra a Lua de Júlio Verne (1809), que não tinha extraterrestres, e Os Primeiros Homens na Lua ,de H. G. Wells (1909), que encheu a sua Lua imaginária de insetos “socialistas’. Os “bichos lunares” de Miélès era bem feiosos: mistura de esqueletos e insetos.
Poucas vezes as telas representaram a vida extraterrestre de forma neutra. Desta forma os extraterrestres eram seres malévolos ou benévolos, raramente indiferentes; ou queriam nos matar ou nos salvar de nós mesmos. No encontro que participei, muitas vezes perguntaram o que aconteceria se encontrássemos um bactéria ou uma ameba em Marte. Seria um grande evento para a Astrobiologia, sem duvida. Em minha opinião, para a população em geral seria um anticlímax. Ah, só um bichinho microscópico que a gente pode matar com merthiolate? Nada de bolha assassina? Nada de apocalipse zumbi? E o seres cabeçudos e super dotados? Esta polarização de contexto: meus amigos ou inimigos alimentaram as telonas e telinhas por muitos anos e ainda continuam a surtir efeito. O antropocentrismo não nos deixa ter uma visão mais equilibrada das inúmeras possibilidades de vida extraterrestre.
Na prática. as palavras alienígena (ALIEN) e extraterrestre (ET) são sinônimos, mas vamos utilizar os ícones famosos do cinema, vamos falar daqueles que achamos amigos e os possíveis inimigos respectivamente.
Extraterrestre Bonzinho
Não foi a primeira representação de alienígenas no cinema. Vindo dos quadrinhos, conhecemos o Super Man (Criado por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1938), que veio de Kripton. Era o ideal helenista de força, beleza e caráter. Um deus moderno que veio nos trazer sua divindade soberana e justa para equilibrar nossa sociedade caída, prendendo ladrões, punindo vilões, salvando inocentes, corrigindo desastres naturais e, mais tarde, acabando com as guerras. Sobre Super Man, muito foi escrito, mas o que me chama a atenção imediata é que ele não parece alienígena: é um “super humano”. Não tem pele verde ou antenas. Vive entre nós, se escondendo apenas com um par de óculos. É um ideal de beleza e força que não ameaça, não intimida.
Em 1951, no filme “O dia em que a Terra parou”, o alienígena Klaatu veio nos colocar no nosso devido lugar, nos fazer parar uma corrida armamentista na marra. Tá certo que o Gort, robot enfezadinho, não era exatamente um ET e muito menos bonzinho. A intensão do cara era das melhores: dar um susto na humanidade e evitar que ela se explodisse (literalmente). O ET, aqui, na verdade era um humano que foi criado por alienígenas. Não falta disco voador (marca da sua origem extraterrestre) nem o robot. Estes sinais não deixavam dúvidas de sua origem externa. O filme foi baseado no livro de Harry Bates.
A obra de Steven Spilberg, em 1982, não representou o primeiro extra-terrestre bonzinho, mas certamente foi um dos primeiros a não rimar beleza com bondade, pelo menos no cinema. Além de feio, o bichinho extraterrestre era amigo da garotada. A ligação com o menino e a posição de náufrago e quase vítima marcaram época e uma boa virada numa sequência de seres maléficos, dominadores, invasores etc.
Na próxima parte vamos conversar sobre os Aliens Malvados e destacar visões mais particulares e isentas.