A visão é muito importante para a interação entre os animais e seu ambiente, influenciando comportamentos de reprodução e estratégias de alimentação, por exemplo. E esta relação entre presa e predador fez com que a visão atuasse como forte fator de seleção sobre as populações animais.
Fósseis do Cambriano indicam que diversos artrópodes tinham olhos semelhantes aos de insetos e crustáceos atuais, mas nenhuma estrutura visual havia sido encontrada preservada por inteira, exceto os do Eoceno, preservados em âmbar. Porém, com o fóssil de Dollocaris (crustáceo extinto) isso mudou e cientistas puderam observar tecidos moles bem conservados e a partir deles reconstruir seus olhos e conhecer mais sobre os órgãos vitais e modo de vida.
O olho desse crustáceo é composto por 18.000 omatídeos justapostos, assemelhando-se aos olhos de insetos, como as libélulas, e de crustáceos modernos, provavelmente tendo funcionamento similar. Análises indicaram que esse crustáceo era ativo durante o dia e vivia na zona eufótica do oceano, sendo um predador e tendo sistema circulatório fechado, com alto consumo de oxigênio, caracterizando um estilo de vida ativo.
Observar e medir estruturas e parâmetros visuais em espécimes existentes é fácil, porém em fósseis como o de Dollocaris é muito desafiador. Os olhos desses e suas estruturas internas são ricas em detalhes e estão incompletas, fora do lugar ou deformadas, ou seja, em condições desfavoráveis para determinação precisa de muitas características. Mas por meio de microtomografia computadorizada de raio-X, os cientistas puderam reconstruir os olhos e suas estruturas internas e órgãos vitais, o que permitiu a inferência da relação entre os olhos da espécie, seus hábitos de vida e seu possível habitat.
Muitas características encontradas estão presentes em insetos e crustáceos modernos que apresentam olhos multifacetados, com alta densidade de omatídeos, e tem o campo de visão fortemente relacionado ao comportamento de predação.
O trabalho é importante por mostrar que é possível encontrar partes moles de organismos preservadas. Por isso, com auxílio de microtomografia computadorizada, foi possível observar e documentar a estrutura completa de um olho fossilizado. Isso indica a possibilidade de desenvolver estudos a partir de sistemas sensoriais fossilizados e mostra a importância dos fósseis na discussão da evolução de sistemas internos de organismos.
Fonte: Nature Communications