Desde que começamos a receber informações sexuais e reprodutivas, não falo daquilo que as pessoas contam sobre cegonhas ou de sexo por entretenimento, o assunto é sobre o ato de gerar uma vida, aprendemos que é necessário um indivíduo do sexo masculino e um do feminino para que o ser humano se reproduza. Mas, agora, uma nova polêmica foi lançada: a substituição mitocondrial, que utiliza o material genético de três pessoas, isso mesmo três! Calma que vamos te explicar como isso é possível.
Para começar precisamos falar das mitocôndrias, conhecidas como a fábrica das células. Elas são um componente da célula que utilizam o oxigênio que respiramos para produzir cerca de 90% da energia que o nosso corpo inteiro consome. Além disso, elas possuem um DNA próprio, que recebe o nome de DNA mitocondrial (DNAmt – sigla muito obvia né?), desse fato surge a ideia de que as mitocôndrias seriam no passado um estrutura separada das células que teriam a capacidade de produzir energia, mas que necessitavam invadir outras para se reproduzirem. Assim, com o tempo teriam invadido e se juntado as células animais e permanecido dentro delas com o processo evolutivo (entenda aqui que esse processo demorou muito tempo desde a época que os seres microscópicos dominavam o planeta até chegarmos na configuração que temos hoje – muito mais tempo do que aquele download em internet discada).
A relação entre a célula e a mitocôndria é chamada de endossimbiose (para entender vamos separar a palavra por partes. Temos “simbiose” quando dois ou mais organismos tem uma união com benefícios, o famoso uma mão lava a outra; e o prefixo “endo”, ou seja, um organismo vive dentro do outro, por fim é como abrigar um hóspede que te ajuda em casa).
As informações genéticas do DNAmt são passadas da mãe para os seus filhos, e deles para os netos e assim sucessivamente (durante a união das células reprodutivas as mitocôndrias do papai não são usadas).
Durante a cópia do DNAmt para gerar uma nova célula pode haver algum erro e as novas células não saem exatamente como a original, essa mudança é o que chamamos de mutação. Os números para casos com mutação são de aproximadamente 1 em 5000 nascimentos (bem menos que o universo X-men). Algumas vezes mutações são muito sutis e não interferem no desenvolvimento da criança, porém em outros casos podem causar problemas no coração, cegueira, demência ou até a morte. E, não, não superpoderes.
Existem varias técnicas que tentam prevenir o surgimento desses males em recém-nascidos, mas a técnica que atualmente foi encaminhada para o FDA (Food and Drugs Administration) consiste em utilizar mitocôndrias de um doador no lugar de mitocôndrias com mutações que já apresentam problemas, originárias da mãe. A técnica já foi testada em células animais e humanas, entretanto não foram transferidas para nenhum embrião para que gerasse uma vida.
O importante é ressaltar que o DNA do núcleo da célula contendo as informações genéticas da mãe estará lá e representa, junto com o DNA do pai, 98% dos genes do bebe. A substituição será apenas das mitocôndrias originais, pelas do doador e assim as mutações não serão passadas para as próximas gerações.
Na Grã Bretanha a técnica já é aceita desde fevereiro de 2015, mas nos Estados Unidos o FDA está analisando o caso do ponto de vista ético, social e político que a liberação pode causar. Caso a técnica seja aprovada os primeiros projetos preveem que apenas bebês do sexo masculino sejam gerados, pois assim não haveria problemas em passar o DNA das mitocôndrias doadas para a próxima geração, já que só as mães passam.
A oposição tem usado como base para suas contra indicações o argumento de que iremos para um mundo de “edição de genes” sem controle. Apesar de não haver “edição de genes” na técnica (para deixar claro, a técnica é a troca total do DNAmt pelo do doador, sem edição do original). O presidente do Conselho de Responsabilidade Genética, um grupo de advogados com cede em Nova York, chamado Jeremy Gruber defende ser antiético fazer mudanças em genes humanos, independente de onde eles se encontram.
Outros pontos importantes para essa decisão do ponto de vista ético e social é fato do bebê ter teoricamente genes de duas mães, o que pode levar a uma crise de identidade, ou pressão social devido a preconceitos (nesse aspecto os X-men e sua luta pelo reconhecimento como iguais são válidos).
Assim, o FDA junto com a academia de ciências americana (que auxiliará na questão) terá que tomar uma decisão importante para o futuro. Em que podem aceitar a substituição mitocondrial e regular o seu uso (importante para que não haja locais sem a capacidade necessária para executá-la ou que realizem sem controle, usando de pretexto para outras intervenções) ou, por outro lado, buscar uma decisão que pode deixar de salvar vidas e partir para uma outra solução. Mas, lembre-se que sempre haverá relutância quando se trata de grandes mudanças.
Fontes:
O que a mitocôndria faz (Newcastle University)
Substituição MItocondrial: só para embriões masculinos (The Verge)
FDA irá considerar procedimento de fertilização com substituição mitocondrial (Washington Post)