Memórias de um planetarista. Responder perguntas de crianças nem sempre é fácil. Às vezes a gente acerta. Outra vezes nem tanto.
Geralmente recebo crianças bem pequenas para uma sessão no planetário aqui no Rio. Às vezes fico desanimado na hora das perguntas pois elas quase nunca fazem perguntas. Uns dizem somente: “Eu gostei”.
Outros dizem o que trouxeram pro lanche, outros dão detalhes de suas famílias, outros repetem frases mais ou menos desconexas. Alguns parecem ser meio que adestrados a responder perguntas e não a fazê-las. Mas às vezes tenho a grata surpresa com turmas mais curiosas.
Brilha brilha estrelinha
Um dia desses um menino me vem com essa:
“Por que as pessoas dizem que quando alguém morre vira estrela?”
Eu devia estar inspirado no dia pois respondi de imediato:
“Porque é bonito. As pessoas querem pensar num destino mais bonito para aqueles que se foram. Mas, se nossos corpos não viram estrelas com certeza a matéria, de que nosso corpo é feito, esteve dentro de uma estrela um dia. Se não vamos para as estrelas ao morrer com certeza “viemos” de uma antes de nascer.
O menino sorriu e deu-se por satisfeito. Ufa, dessa eu escapei!
Queijo Lunar
Uma turma vinda da zona rural do Rio de Janeiro. O menino dispara inocentemente:
“A lua é feita de queijo?”
Alguns coleguinhas dão risadinhas. Eu olho para o garoto para ver se ele estava me zoando. Parece sincero. Saio com essa:
“Queijo é feito de quê?”
Ele: – De leite, ora. (Pensando que cara bobo que não sabe disso)
Eu: – Você acha que a Lua é pequena ou grande?
Ele: – Enooormeee! (Faz com as mãos assim).
Eu: – Já imaginou quanta vaca ia precisar para ter tanto leite assim?
Ele arregala os olhos. Eu explico que a Lua é feita de rocha e poeira e “rezo” para que ele aceite. Desta vez eu me safei.