Peter Parker desenvolve um polímero extremamente resistente e facilmente degradável, entretanto ganha dinheiro vendendo fotos do Homem-aranha para o Clarim Diário. A ficção faz histórias como essa parecerem ridículas, mas bem da verdade é que muitos pesquisadores do mundo real pecam em não ter uma visão de negócio para suas pesquisas.

Um moleque com uma roupa colorida. Sem isso sobre o quê? Um gênio, pé-rapado, nerd e altruísta

Um moleque com uma roupa colorida. Sem isso sobra o quê?
Um gênio, pé-rapado, nerd e altruísta. Bilionário mesmo só o Tony Stark.

É fato que existem pesquisas que não são planejadas com a intenção de gerar algum lucro, ou mesmo desenvolver algum produto, processo ou tecnologia que gere riqueza. Faz-se uma clara distinção entre Ciência Pura e Aplicada para deixar claro que a primeira se preocupa mais em desenvolver pesquisa básica, a fim de descrever as forças e fenômenos mais fundamentais, que talvez algum dia possa servir de base para algum desenvolvimento tecnológico, mas não é o objetivo principal. Entretanto, mesmo a pesquisa básica não é feita de graça. O mais talentoso dos Sheldons, ou o pesquisador do campo mais abstrato de equações matemáticas, ainda precisa de dinheiro para pagar suas contas, comprar computadores ou softwares que o auxiliem a desempenhar, produzir ou publicar seus estudos. Resumindo, independente da área, o desenvolvimento científico depende de capital, ou seja, aquele que deseja iniciar ou continuar produzindo ciência precisa saber vender seu projeto.

Muitas das habilidades que formam o cerne de um empreendedor são desenvolvidas durante a formação para pesquisa científica, que vai além do simples domínio do conhecimento específico de uma área ou mesmo do método científico. Pesquisadores lidam todos os dias com prazos curtos, se dedicam muitas horas além de uma jornada normal de trabalho (noites e fins de semana), além é claro de sempre terem de resolver algum problema que surge de repente no laboratório; conduzir dois ou mais projetos de pesquisa com recurso que talvez não fosse suficiente nem para um; e o mais importante: não ter medo de navegar pelo desconhecido. Mas se existem tantos paralelos entre a vida de um empreendedor e a de um cientista, o que fazem tantos cientistas que não estão fundando e presidindo grandes empresas? A resposta parece ser algo bem parecido com a escolha de Peter Parker.

 

Muitos pesquisadores mantêm seus olhares apenas na carreira acadêmica e se esquecem suas habilidades de inovar.

Muitos pesquisadores mantêm seus olhares apenas na carreira acadêmica e se esquecem suas habilidades de inovar.

 

No geral, a carreira de pesquisador está atrelada a academia, principalmente no Brasil, onde grande parte das pesquisas tem origem nas universidades e é financiada com recursos públicos. E a principal medida de sucesso acadêmico é se ela foi ou não publicada em alguma revista científica de alto impacto que provavelmente apenas um grupo altamente especializado poderá ler (a não ser que você tenha aprendido a como entender um artigo científico). Em outras palavras, o que muitos pesquisadores fazem é utilizar todo o seu intelecto para desenvolverem sensacionais lançadores de teias, mas acabam ganhando dinheiro vendendo fotos de um herói mascarado. Mas, não é só isso, a pesquisa feita majoritariamente em universidades gera um gargalo gigantesco. As instituições de ensino formam cada vez mais pesquisadores que não são capazes de absorver, nem tampouco o governo destina recursos para financiar a continuidade de suas pesquisas. Junte a esse cenário uma crise econômica com cortes imensos na verba para pesquisa que teremos a tempestade perfeita. Entretanto, se como dizem os empreendedores, onde há crise existe também oportunidades, esse é o cenário ideal para conduzir o pesquisador experiente ou em formação.

É claro que criar uma start-up de sucesso não depende apenas de uma boa ideia ou de preparo do criador. Os principais desafios, como entender a situação mais propícia no mercado, desenvolver um plano de negócios, as conexões para fazer o negócio progredir e levantar recursos necessários para isso, ainda são habilidades um tanto distantes das que se desenvolvem na academia. Mas o que um cientista poderia fazer para ultrapassar essas barreiras? Oras, o que se sabe fazer de melhor! Pesquisas e experimentos. A ciência dá o conhecimento de como fazer (aquele tal do know-how) e cientistas são pessoas focadas e desejosas por algo que desafie seus intelectos, vários são os sites com cursos e informações de como desenvolver planos de negócios e transformar ideias em negócios. Aqueles que conhecem bem o método científico já possuem uma vantagem. Eles já estão up, falta só o start.

Referências:

Nurturing entrepreneurship. Nature Materials 14