Você pode me bater
Ai, ai, ai
e até me provocar
Ai, ai, ai
mas não manche as minhas águas
e se rouba a minha terra
É guerra no mar, é guerra
guerreira, guerra é guerra no mar
se eu não ganho nessa, eu perco
mas na outra eu vou ganhar.
(Guerra no Mar, Maria Bethânia)
Salve, salve gente amiga das Ciências!
A necessidade e, muitas vezes, a cobiça levam vizinhos a duelar por espaços e poder. E os versos entoados pela irmã de Caetano Veloso servem para ilustrar um ingrediente que muitas vezes foi usado, ao longo da história da humanidade, como desafio para a defesa/ataque dos países. Foi justamente por espaços e poder que Rússia e Japão iniciaram um duelo, no alvorecer do século XX.
Hoje, verificaremos alguns detalhes da batalha que pôs um ponto final na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905):
BATALHA DE TSUSHIMA
(maio de 1905)
No início da guerra entre a Rússia e Japão, a maior parte da frota russa estava ancorada no mar Báltico, a mais de 32 mil quilômetros de distância do teatro de operações. Tomou-se a decisão de fazer navegar a maioria dessas embarcações por metade do mundo para enfrentar os japoneses. Elas levantaram âncora em 15 de outubro de 1904 sob o comando do almirante Zinovi Petrovitch Rozhestvenski e seguiram pelo Báltico.
Depois de sete meses a frota russa entrou no oceano Índico e alcançou a baía de Van Fong, na Indochina Francesa, pronta para o combate. Ela consistia em oito belonaves, oito cruzadores, nove destróieres e três embarcações menores. Era uma esquadra de números consideráveis, mas de qualidade duvidosa, com a maioria das embarcações obsoletas. Além disso, eram inferiores em liderança e manejo de artilharia quando comparadas com a frota japonesa do almirante Togo Heihachiro, de quatro belonaves, vinte e sete cruzadores, vinte e um destróieres e dezesseis torpedeiros.
No momento em que Rozhestvenski alcançou a baía indochinesa, Port Arthur (grande base naval russa na península de Liaodong, China) já havia caído diante dos japoneses e a frota russa que ali estava fora capturada. O único destino disponível para o almirante russo era Vladivostok. Com poucas reservas de carvão, Rozhestvenski optou pela rota mais direta e mais arriscada, pelo estreito de Tsushima, onde Togo e seus navios estavam à espreita.
Um nevoeiro na noite de 26-27 de maio poderia ter feito a frota russa passar despercebida, mas um cruzador nipônico avistou o navio-hospital Orel com as luzes acesas. Imediatamente informado graças à nova tecnologia do telégrafo sem fio, Togo preparou a ofensiva.
Os japoneses usaram sua maior velocidade, treinamento e tecnologia de definição de distância dos alvos com resultados mortais. Seus projéteis de alto teor explosivo foram devastadores. Quatro belonaves russas afundaram. Knyaz Suvorov, a nau-capitânia de Rozhestvenski, foi atingida e ele ficou seriamente ferido, tendo que entregar o comando ao inexperiente almirante Nicolai Nebogatov. Mikasa, a capitânia de Togo, foi atingida várias vezes, e um de seus cruzadores foi forçado a se retirar da batalha. Os russos tentaram se virar e fugir, mas a armada de Togo virou contra eles. Os destróieres e torpedeiros nipônicos continuaram o assalto durante a noite, e às 10h30min da manhã de 28 de maio, Nebogatov rendeu-se. Das vinte e oito embarcações russas que entraram no estreito, apenas três chegaram a Vladivostok; dezessete foram afundadas, cinco capturadas e três seguiram para o sul rumo às Filipinas.
Vale a pena lembrar: Tsushima foi, com exceção das duas batalhas em 1898, nas quais os estadunidenses destruíram virtualmente a marinha espanhola inteira com a perda de um só marinheiro, a batalha naval mais desigual dos tempos modernos. O czar teve que pedir paz. Theodore Roosevelt, presidente dos EUA, mediou o acordo. As condições, claro, foram favoráveis ao Império do Sol Nascente. A primeira guerra de vulto do século XX alçou o Japão ao patamar das potências modernas. Togo e seus homens tinham quebrado o mito da superioridade caucasiana. Sua vitória foi a primeira, na contemporaneidade, de uma nação não ocidental sobre um país europeu. O Japão antecipou táticas e armamentos que seriam usados na Primeira Guerra Mundial. A partir de 1905, os nipônicos assumiram a política externa coreana e dominaram a economia do país. Em 1910, o Japão anexou formalmente a Coreia, que continuou dominada até o fim da Segunda Guerra Mundial.
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