Nosso planeta tem aproximadamente 4,6 bilhões de anos. Durante este período a Terra apresentou constante evolução, pois, estando inserida em um contexto maior, o Universo, sofreu constante influência de tudo que está ao seu redor. Características únicas permitiram que a vida se desenvolvesse por aqui, a partir de elementos vindos do cosmo. Uma sucessão de combinações, ocorridas graças a um ambiente favorável para que ocorressem, permitiu não somente a agregação de moléculas orgânicas, mas permitiu que elas desenvolvessem funções que preservassem seu funcionamento, agregassem outras estruturas orgânicas organizadas e em simbiose pudessem originar organismos, capazes de se reproduzir e interagir com o meio ao redor.
Processos de reprodução e interação com o meio propiciou a maravilha da multiplicação das espécies vivas. Todas elas atuando no ambiente, alterando e modificando o meio. Esta constante alteração do ambiente, por causas cósmicas, geológicas e químicas foi responsável por levar à extinção milhares de espécies que, frente a modificações ambientais ocorridas ao longo do tempo, tiveram limitações severas que impossibilitaram a manutenção das suas funções.
Muito antes da família Marshall encontrar o Cha-Ka, e ser perseguida pelos Sleestak (O Elo perdido (Land of the Lost) -1974, que animava minhas tardes na década de 80!!), a Terra passou por vários períodos de extinção em massa, ocasionados por grandes modificações ambientais.
As principais causas de extinções em massa são: 1) a deposição de gases do efeito estufa na atmosfera, proveniente de atividade vulcânica longa e intensa, e emissões dos depósitos oceânicos de carbono; 2) Impacto de grandes meteoritos e cometas, ocasionando variações de temperatura e modificação do nível do mar.
As cinco maiores extinções em massa são responsáveis pela extinção de 4% de todas as espécies que já existiram. Os outros 96% ocorreram pelo fenômeno descrito como extinção de fundo, ou extinção de ordem natural, que ocorre por competição e declínio de uma espécie frente outra, predação excessiva, escassez de alimentos, doenças ou modificações graduais na qualidade do ambiente, que podem reduzir a aptidão reprodutiva da espécie, podendo levar a um nível que se torne incapaz de se manter. Ao longo do tempo as extinções são balanceadas pelo surgimento de novas espécies, por meio de especiação.
Em nenhum outro tempo existiu uma variedade tão grande de espécies como no período que vivemos. E mesmo assim, essa diversidade toda representa somente 1% de todas as espécies que já existiram na Terra. Os outros 99% já se extinguiram, em algum momento da história evolutiva do planeta. Podemos concluir, então, que a regra de todas as espécies é chegar a extinção, por alguma limitação imposta pelo ambiente, já que o conceito de equilíbrio físico e químico não se aplica ao nosso lugar no cosmo.
Nossa espécie foi beneficiada pelo acaso. Evoluímos e adquirimos a capacidade de contemplação. O que mais tarde se popularizou como filosofia, inicialmente era o poder de observação, identificação de padrões, desenvolvimento de hipóteses sobre a evolução do padrão e possibilidades do que está fora do padrão e divagação sobre os acontecimentos.
“I am ahead, I am advanced
I am the first mammal to make plans, yeah
I crawled the earth, but now I’m higher
Twenty-ten, watch it go to fire
It’s evolution, baby”
Pearl Jam (Do the evolution)
Pudemos ultrapassar barreiras de limitação populacional, limitação territorial, limitação de subsistência. Tornamo-nos ainda mais eficientes em desenvolver métodos e equipamentos que resolvessem nossos problemas, soluções que chamamos de tecnologia. Tornamo-nos milhões…bilhões…
Essa eficiência de sobrevivência, atrelada à capacidade em derrubar as barreiras de controle populacional, leva ao desequilíbrio do ambiente em geral. Quando uma população domina sobremaneira o território, acaba por consumir muito dos mesmos recursos. O sucesso de ambientes com grande diversidade é justamente que espécies convivendo utilizam recursos diferentes, assim todos se beneficiam, permitem a reciclagem dos recursos em um ambiente sustentável.
Exaurir recursos que fazem parte de um equilíbrio com o todo é o primeiro passo para o desequilíbrio, que leva a modificação do meio. As espécies se desenvolvem para serem eficientes no ambiente em que se desenvolveram. Mudanças de temperatura, composição da atmosfera e indisponibilidade de alimento fatalmente leva à extinção de muitos indivíduos, e de espécies inteiras.
O paleontólogo Peter Ward afirma que “a vida não é um fenômeno sustentável, mas sim autodestrutivo; a biosfera é a sua própria pior inimiga”. Ward formulou a hipótese Medeia (rainha grega que matava os próprios filhos).
O mesmo Ward fez o contraponto dos eventos de extinção em massa com o nível de CO2 atmosférico, e constatou que em todas as situações de extinção em massa o nível de CO2 ultrapassou 1.000 partes por milhão (ppm).
Atualmente o CO2 atingiu a marca de 400 ppm. Se seguirmos no “mesmo tranco”, em 2050 atingiremos a marca de 500 ppm, o que, segundo a COP 21 vai elevar a temperatura global 2oC acima da temperatura pré revolução industrial, considerada uma situação limite para a sustentabilidade da vida humana na terra. Em 2100 atingiremos a marca de 800 ppm de CO2 na atmosfera. De acordo com estudos geológicos, esse aumento será aproximadamente 25 mil vezes mais rápido do que se fosse ocasionado por razões naturais.
Irene Sanders e Judith McCabe, pesquisadoras que trabalharam os conceitos da teoria do caos, demonstram o que acontece quando nós rompemos o equilíbrio da natureza. Descrevem que em certo momento uma baleia orca foi avistada se alimentando de uma lontra do mar. Normalmente orcas e lontras coexistem pacificamente. Era sabido que a população de alguns peixes estava em declínio na região. As orcas não se alimentavam desses peixes, mas focas e leões marinhos sim. Na falta do seu alimento preferencial, a população de focas e leões marinhos estava reduzida também, e as orcas estavam obrigadas a mudar seu hábito alimentar para sobreviver.
Diversas pesquisas apontam que a lontra do mar é o principal predador do ouriço do mar. Sem o predador que controla a população do ouriço, esse se multiplica rapidamente. O grande aumento da população de ouriço reduz drasticamente as florestas de algas bentônicas, a ponto de exterminá-las totalmente na região. Essas algas, além de ser abrigo natural de outras diversas espécies, são o principal mecanismo de fixação de CO2 atmosférico, e responsáveis pela oxigenação da biosfera, que possibilita a manutenção vida presente hoje em dia.
“This land is mine, this land is free
I’ll do what I want but irresponsibly
It’s evolution, baby”
Pearl Jam (Do the evolution)
Mas o início de tudo isso está um pouco antes ainda. Grandes expedições baleeiras foram responsáveis por retirar da natureza uma porção considerável de uma espécie de baleia que se alimenta de um tipo de fitoplâncton. Esses pequenos organismos também serve de alimento de um pequeno peixe, que serve de alimento a outra espécie carnívora. Com maior disponibilidade de alimento, o peixinho que se alimenta de fitoplâncton teve sua população aumentada, assim como a população do seu predador aumentou, pois essa também dispunha de mais alimento. A população carnívora aumentou acima do capacidade que o pequeno peixe pudesse sustentar, então o predador mudou seu hábito alimentar, e começou a predar também a espécie da qual focas e leões marinho se alimentam.
Um ambiente modificado é um terreno fértil para desenvolvimento de indivíduos que sofreram alguma mutação que permita alguma vantagem de sobrevivência frente as já existentes e que estão sofrendo estresse pelo ambiente. Na competição por recursos escassos, a espécie que sofre menos estresse do meio se desenvolve melhor, se apropria dos recursos e multiplica seu genoma adaptado.
Nem sempre o mais inteligente consegue vencer a limitação ambiental, tampouco o mais forte.
“Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!”Mario Quintana (Poeminho do contra todos)
Referências:
– Ward, P.D. Under a green sky: global warming, the mass extinctions of the past, and what they can tell us about our future. 1st Smithsonian Books ed. 2007.
– Laitman, M. Completando o Circulo. ARI Publishers. 2015.
– Fagundes, L. M. Abundância de ouriços-do-mar em costões rochosos rasos de Santa Catarina. C DE OCEANOGRAFIA UFSC. 2016.
Igor Saldanha de Freitas. Entusiasta da ciência aplicada aos animais de produção, em especial bovinos. Amante das carnes, queijos e bebidas fermentadas. Busca a iluminação nos manuscritos de Darwin.