Desde o principio da filosofia com Aristóteles, é discutido o pensamento ontológico do Ser e do Estar, e a transitoriedade. Como as rochas podem ser encaixar nesses questionamentos? E ainda mais, como uma “pedra” que está ali durante toda a nossa existência humana, paradinha e estática, seja montanha ou piso de padaria, se encaixa nessas mudanças? Para isso, os primeiros cientistas da natureza começaram a pensar na origem das rochas e como elas poderiam ter se desenvolvido nesse ciclo, no caso da geologia, Ciclo das Rochas.

Primeiramente, qual seria a definição ou o conceito de Ciclo das Rochas? De uma maneira geral, estudantes se preocupam muito mais em decorar conceitos, inclusive este, do que em aprender e compreender o que está por trás dessas definições.

No caso deste tema, costumamos perceber que a maioria das pessoas peca em assimilar o processo de formação dessas rochas e a relação direta entre elas. Portanto, vamos tentar simplificar ao máximo a compreensão dessas interrelações para podermos tirar melhor proveito do Ciclo das Rochas.

E pra começar, quais são os três tipos principais tipos de rochas e os processos associados? Temos as rochas ígneas, as rochas metamórficas e as rochas sedimentares.

As rochas ígneas são aquelas formadas a partir do resfriamento e solidificação do magma. E o que é o magma? O magma é um material fundido, geralmente silicatado (ou seja, com moléculas de SiO2 na sua composição), além da ocorrência de cristais (material que já sofreu o processo de cristalização) e voláteis (que são os elementos e compostos com elevado ponto de ebulição, como por exemplo H2O, CO2, SO2, Cl, F).

Esse magma é gerado no interior da Terra e é provido de mobilidade, apresentando uma tendência de locomoção em busca da superfície (mais fria), como já comentamos no nosso texto “O interior do planeta e sua relação com a dinâmica de superfície”.

Portanto, esses processos de resfriamento e solidificação (e também a cristalização) podem ser lentos e graduais, associados à ocorrência no interior do planeta, formando as rochas ígneas plutônicas, ou podem ser rápidos e/ou instantâneos, associados à ocorrência na superfície do planeta, quando do extravasamento do material fundido, ou seja, do material no estado líquido e/ou pastoso. Quando isso ocorre, o magma recebe o nome particular de lava, lava sem o R de LARVA e formam as rochas ígneas vulcânicas.

Então aqui já temos claramente os processos de resfriamento, solidificação e cristalização e a formação de dois produtos: o ígneo plutônico (ou intrusivo) e o ígneo vulcânico (ou extrusivo).

E como esse material chega à superfície? Isso ocorre a partir das movimentações tectônicas, se aproveitando das zonas de fraqueza e alívio das rochas situadas acima desse material e penetrando nesses espaços vazios gerados pelos dobramentos, falhamentos e fraturamentos. Além disso, existem também os hot spots, ou pontos quentes, que são regiões anômalas no interior das placas tectônicas por onde esse material pode chegar também à superfície.

O segundo tipo de rocha é a metamórfica, que é produto do processo de metamorfismo, que nada mais é do que a mudança de forma, e essa mudança de forma pode ocorrer na composição, na textura ou na mineralogia da rocha, podendo ocorrer apenas uma modificação dessas citadas ou mais de uma conjuntamente. E vale lembrar que o metamorfismo ocorre exclusivamente no ESTADO SÓLIDO, ou seja, a rocha, antes de sofrer o metamorfismo, não muda de estado, ela já se encontra no estado sólido e sofre o metamorfismo no mesmo estado sólido.

Então aqui temos o processo maior que chamamos de metamorfismo e associado a ele temos o processo de recristalização do material prévio ou original, também chamado de protólito. Esses processos e, consequentemente, a formação dessas rochas metamórficas, podem acontecer desde altas profundidades até mesmo na superfície do nosso planeta, sendo este último menos comum.

O terceiro tipo de rocha é a sedimentar, que é o produto de vários processos que ocorrem na superfície do nosso planeta, chamados de processos supergênicos. Uma rocha qualquer, após ser intemperizada, perde a coesão e passa a dar origem aos sedimentos; sedimento que é definido como um material sólido desagregado.

Os sedimentos são, então, erodidos e transportados até regiões mais baixas, no que se refere a altitudes, e começam a ser depositados em zonas mais calmas que permitem essa acumulação.

O processo é constante, independente da quantidade de sedimentos que é depositada, e essa constância faz com que o material seja soterrado pelas camadas sobrejacentes depositadas e, por fim, sofre o que chamamos de DIAGÊNESE, que é o processo final para a formação da rocha sedimentar. A diagênese se refere, portanto, às mudanças físico-químicas que esse material sofre, deixando de ser apenas sedimentos inconsolidados e, agora, passando a ser rocha sedimentar, coesa e consolidada.

Esse processo diagenético pode ocorrer por diferentes caminhos, mas todos levarão ao mesmo resultado, que é a formação da rocha sedimentar, sendo ela do tipo clástica ou química. A clástica é resultante dos processos erosivos e transportados na forma de partículas, enquanto que a química corresponde aos materiais produzidos por precipitação química, de origem inorgânica ou orgânica.

Chegando assim num ponto crucial do nosso tema do ciclo das rochas, mesmo falando separadamente de cada tipo principal de rocha existente. Observem que foram comentados todos os processos que resultam na formação das rochas ígneas, metamórficas e sedimentares e, como também já falado, as rochas estão à mercê da tectônica de placas e seu incessante movimento.

É essa mesma tectônica de placas que promove o soerguimento dessas rochas na superfície, modelando o relevo do nosso planeta e fazendo com que elas fiquem sujeitas aos processos supergênicos, os quais são influenciados diretamente pelo clima e pelo regime de chuvas. Ou seja, sem entrar nesse mérito agora, cada tipo de rocha vai passar pelos processos supergênicos de maneira diferente, em virtude das diferentes composições e origens dessas rochas.

Se por um lado as rochas podem chegar à superfície, elas também podem percorrer o caminho contrário e voltar ao interior do nosso planeta. Quando isso ocorre, temos duas possibilidades: ou a rocha sofre os processos de metamorfismo e recristalização, dando origem a uma rocha metamórfica, ou sofre profunda desestabilização e entra em processo de fusão, voltando a ser magma. E a partir do momento que se torna magma, volta ao “marco zero” de todo o processo para dar origem a uma nova rocha ígnea.

Com todos esses produtos e processos bem compreendidos, agora fica fácil conceituar o que é o Ciclo das Rochas.

Começando pelas profundezas do nosso planeta, o magma, ao sofrer resfriamento, começa a se solidificar e cristalizar dando origem às rochas ígneas (plutônicas no interior do planeta e vulcânicas na superfície do planeta). A origem desse magma pode ser bem diversa, mas para fins de ciclo das rochas basta lembrar que qualquer tipo de rocha pode sofrer fusão e gerar um magma.

Ainda no interior do Planeta, as rochas podem sofrer desestabilização e serem recristalizadas, dando origem agora às rochas metamórficas. Novamente, independente do tipo de rocha que passa por esse processo, podendo até mesmo uma rocha metamórfica passar por um novo processo de metamorfismo.

Por fim, todas essas rochas, ao ficarem expostas às atuações climáticas e biológicas na superfície, sofrerão os processos supergênicos já comentados, dando origem às rochas sedimentares. Esse processo de ciclo das rochas, nos leva a pensar que as rochas não são ígneas, metamórficas ou sedimentares, elas estão naquele momento em que as estudamos, que estamos vendo e tocando. Esse processo de estudo é apenas um retrato no tempo geológico de existência daquele material.

Note que, como comentamos em nossos textos anteriores, a Terra tem uma idade de 4,65 bilhões de anos e a disposição dos continentes atuais tem no mínimo 40 milhões de anos, ou seja, já dançaram muito por aí… mas isso é um tema pra nossos próximos textos, a dança dos continentes.

Então, se você hoje puder ver uma montanha ou um piso de granito de padaria, pode pensar que ele nem sempre foi assim, afinal o piso já pode ter sido uma montanha e em um tempo geológico distante pode até virar uma areia de praia. Tudo é transitório, até nas “pedras”.