Se você gosta de observar o céu, já deve ter percebido que ele nunca é exatamente do mesmo tom de azul. Sua coloração varia ao longo do dia, influenciada pela posição do Sol, pela composição da atmosfera e pela quantidade de partículas em suspensão no ar. Além disso, a tonalidade do céu muda conforme a estação do ano, as condições meteorológicas e até a altitude em que estamos.

No Meteorópole e em minha vivência como divulgadora científica da área de Meteorologia, costumo dizer que o ser humano foi o primeiro instrumento meteorológico que existiu. Com a necessidade como guia, aprendemos a observar o céu e a interpretar suas mensagens. Essa habilidade de perceber nuances e padrões nos levou a criar ferramentas para tornar essas observações mais precisas. Uma delas é o cianômetro, um instrumento desenvolvido no século XVIII para medir a intensidade do azul do céu.

A criação do cianômetro é atribuída ao físico suíço Horace-Bénédict de Saussure e ao naturalista alemão Alexander von Humboldt. O modelo de De Saussure, de 1789, consiste em 53 seções dispostas em círculo, com tons que vão do branco ao azul profundo e, por fim, ao preto, usando o pigmento azul da Prússia. A fabricação desse instrumento exigia não apenas precisão científica, mas também um olhar artístico, para combinar os pigmentos de maneira que as cores formassem uma transição suave e precisa.

A inspiração para o cianômetro surgiu durante uma expedição ao Mont Blanc, o ponto mais alto dos Alpes. De Saussure notou que o céu ficava progressivamente mais escuro à medida que subia. Ele usou seu instrumento para mostrar que essa mudança estava relacionada à redução da densidade atmosférica e à diminuição de partículas suspensas, como gotículas de água, cristais de gelo e aerossóis. Ele também especulou que o tom do céu podia indicar o teor de umidade do ar, observando como o azul desbotava no branco das nuvens.

Embora hoje saibamos que a cor do céu é explicada pela dispersão de Rayleigh — um fenômeno causado pela interação da luz solar com moléculas de gás na atmosfera —, o cianômetro representou um avanço significativo. A ideia de De Saussure de usar a cor do céu como um indicador das condições atmosféricas foi inovadora, mostrando como a ciência muitas vezes nasce de observações aparentemente simples.

Alexander von Humboldt, outro gigante da ciência, também utilizou o cianômetro em sua lendária expedição ao Monte Chimborazo, no Equador. Em sua famosa representação chamada Naturgemälde, que mostra as mudanças nos elementos naturais da paisagem conforme a altitude aumenta, Humboldt não deixou de incluir o céu. Ele ajustou a cor no desenho para refletir as alterações que observou com o cianômetro, destacando a relação entre altitude e tonalidade do céu.

Hoje, o cianômetro é uma peça histórica, quero dizer, não é usado operacionalmente ou em observações científicas pontuais. No entanto, esse instrumento científico antigo nos lembra que a ciência começa com a curiosidade, com o desejo de entender o mundo ao nosso redor. A partir de um círculo de cores, De Saussure e Humboldt abriram caminho para uma nova compreensão da atmosfera.

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