Imagine a física como uma grande aventura cheia de mistérios. Agora, imagine que o herói dessa história é um brasileiro chamado Cesar Lattes. Nascido em Curitiba, Paraná, em 1924, ele não usava chapéu, chicote, metralhadora e nem uma faixa na cabeça.

Filho de pais imigrantes italianos, Cesare ou César deve seu inicio na vida acadêmica com professores particulares. Terminou seus estudos no Colégio Dante Alighieri. Seu pai, Giuseppe Lattes, conversou e mediou os estudos de César na Universidade de São Paulo com o professor Gleb Wataghin, que foi mentor de César até sua formação em física com 19 anos em 1943.

Nos anos 1940, enquanto a maioria das pessoas estava ouvindo rádio ou indo ao cinema, Lattes estava caçando partículas subatômicas. Ele foi para a Universidade de Bristol, na Inglaterra, onde, em 1947, ao lado dos cientistas Giuseppe Occhialini e Cecil Powell, descobriu o méson pi no laboratório de Carl David Anderson, nos Andes.

E o que é um méson pi, você pergunta? É uma partícula subatômica importante. A descoberta do méson -pi foi um grande feito, algo como encontrar um tesouro escondido no universo das partículas.

Figura1. Fotografia de um meson Pi artificial produzido no ciclotron 184 (USP).

O experimento envolveu as férias de Giuseppe Occhialini. Ele levou chapas fotográficas, feitas por César Lattes,  que seriam expostas a radiações cósmicas. Quando Occhialini voltou para Bristol mostrou as placas para Lattes, que reconheceu os traços observados na emulsão exposta. Eram traços provocados por mesons. Nas chapas foram vistos dois tipos de decaimentos: os mésons -pi e o Múon.

Em 1947 um trabalho foi publicado na revista NATURE sobre essas descobertas, este artigo foi escrito por Lattes, Muirhead, Occhialini e Powell. Powell ganhou o Prêmio Nobel por essa descoberta em 1950, já que naquela época apenas o líder na pesquisa ganhava o prêmio Nobel, porém foi Lattes quem realizou a maior parte das pesquisas. 

Figura 2: Acervo da revista NATURE.

Lattes voltou ao Brasil e decidiu fazer mais ciência por aqui. Ele ajudou a criar o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) no Rio de Janeiro, um lugar onde muitos outros cientistas poderiam seguir em sua trilha de caça às partículas. E como todo bom aventureiro, Lattes não parou por aí. Ele foi um dos responsáveis pela criação do primeiro acelerador de partículas brasileiro, o Laboratório de Luz Síncrotron, em Campinas. Isso é como se ele tivesse montado uma fábrica de mésons e outras partículas, um lugar onde podemos entender melhor como o universo funciona.

Figura 3: Centro Brasileiro de Pesquisas físicas (esquerda); Sirius – Sincroton (direita).

Além de ser um cientista brilhante, Lattes também foi um professor incrível. Ele ensinou na USP e na UNICAMP, onde inspirou muitos jovens cientistas a seguir seus passos. Lattes nos deixou em 2005, mas seu legado vive, como uma lenda que inspira cientistas ao redor do mundo.

Então, da próxima vez que você ouvir falar de física de partículas, lembre-se de Cesar Lattes, o caçador de partículas brasileiro que nos mostrou que, com determinação e curiosidade, podemos desvendar os maiores mistérios do universo.

 

Referências:

– “César Lattes”, Wikipedia, (https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9sar_Lattes)

– Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) (https://www.cbpf.br)

-CÉSAR LATTES: UM DOS DESCOBRIDORES DO ENTÃO MÉSON PI 

https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5165449.pdf

– César Lattes e o méson

https://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/cesar-lattes-o-meson-10576021