Pela primeira vez em quase duzentos anos, um dragão volta a causar problemas no reino de Dreen. O monstro se instalou nas cavernas da costa oeste, aquela região é conhecida pelas grandes criações de animais que alimentam uma boa parte do reino com porcos, galinhas e ovelhas. Agora, o rei deve lidar com esse grande problema e com a guerra que dura há quase meia década.
Um dragão mesmo jovem impressionava as pessoas, sua cabeça era do tamanho de uma carroça, o corpo era do tamanho de uma casa pequena, os membros eram um pouco maiores que um homem adulto, as garras e os dentes eram do tamanho de adagas. As asas abertas lembraram as velas dos maiores barcos de Dreen. Sua chegada causava terror, sua fome era terrível e o fogo de sua ira era mortal, quase instantâneo. Ninguém ouviu o grito de dor de alguém que fora alvejado por uma baforada de um dragão esmeralda.
As vilas de Morgan, Green e Morris tiveram sua paz interrompida quando uma grande sombra passou por elas em direção à costa naquele inverno. Horas depois, a criação de ovelhas do velho Bill foi a primeira a sofrer. O filho dele, Jonas correu para o centro da vila para avisar sobre isso, porém quando chegou lá, viu dezenas de pessoas apavoradas esperando uma solução do prefeito.
Algumas semanas depois, Luca chegou à região, então viu dezenas de pessoas fugindo com carroças recheadas de pertences que acumularam por toda vida, assim o paladino descobriu o problema e veio para ajudar no que era possível.
Durante o caminho, Luca contou quase duas dezenas de carroças tombadas e pilhadas com famílias inteiras mortas porque não resistiram ao frio ou algo mais. Toda vez, o jovem paladino rezava por eles e registrava o local, a Ordem e as cidades vizinhas teriam que enterrá-los até o final daquele inverno ou aquela estrada seria amaldiçoada e condenada.
Quando chegou, impressionava ao andar naquele frio terrível com armadura completa, já que os guardas daquelas vilas usavam proteções de couro bem grossas durante o inverno. Alguns poucos podiam notar pequenas runas laranjas que apareciam e ficavam nas extremidades da armadura.
Dezenas de moradores se amontoavam ao redor do cavalo de Luca pedindo comida, dinheiro, cura ou ajuda. Ele não conseguia descer e tentava acalmar as pessoas, então viu dois homens na frente sinalizando.
— Eu vou tentar ajudá-los, mas preciso falar com as autoridades, volto em breve — disse o jovem assim que fez o seu cavalo ir na direção daqueles homens.
Alguns ficaram aliviados, outros irritados, pois não parecia mais ser a solução para a desgraça deles.
Quando Luca se aproximou, os dois homens fizeram uma reverência, em seguida apontaram para uma construção perto dali. Luca agradeceu e seguiu naquela direção. Quando entrou, viu o prefeito, o chefe da guarda e alguns senhores da região, talvez os fazendeiros mais poderosos que ainda não tinham fugido.
— Espero que sua chegada marque a mudança da nossa sorte nessa questão meu jovem. Esse maldito dragão nos inferniza há duas semanas. Já matou nove famílias inteiras que tentaram proteger suas propriedades, quase metade do povo fugiu daqui — disse Oliver, um dos senhores da região.
— Mesmo aqueles que fogem, acabam encontrando a morte, passei por quase vinte carroças e vários corpos no caminho, talvez brigas ou roubos. Fiz um preparo inicial para acalmar os espíritos, mas não é suficiente — avisou Luca.
— Eu agradeço em nome da cidade — disse o prefeito com um alarmante bafo de bebida.
Luca ficou sabendo que um grupo de mensageiros foi buscar ajuda do rei na capital e da Ordem. Os fazendeiros juntaram quase 30 homens corajosos para expulsar a fera, mas ninguém parecia interessado em liderá-los, o prefeito preferiu ficar embriagado para deixar tudo nas costas do chefe da guarda.
O jovem paladino não demorou muito ali. Irritado com a falta de ação do conselho, foi em direção à vila de Morris. O dragão teria sobrevoado primeiramente as criações ali, o rapaz pensou em verificar a região para saber se alguém estaria precisando de ajuda.
Quando passou pelo centro da vila foi informado que três famílias abandonaram tudo, porém os Woods e os Webbs decidiram ficar protegendo suas criações e suas propriedades.
Luca foi olhar essas fazendas para tentar convencer as famílias a saírem dali. Quando chegava no casarão dos Woods, viu a besta. Era muito maior do que sonhara, a preocupação tomou conta dele, pois não sabia como resolver aquilo, enquanto que dezenas de ovelhas tentavam fugir em desespero e algumas acabavam devoradas. O verde esmeralda das escamas brilhavam naquele dia ensolarado e tão frio. Em seguida, meia dúzia de flechas tentaram alcançar o dragão, duas ralaram em suas escamadas e os garotos voltaram para dentro de casa.
— Criaturas inferiores, ousam perturbar minha refeição!? Vou dar uma lição a vocês também. Quando vão aprender a respeitar uma divindade — disse o dragão irritado.
O jovem dragão abriu as asas, deu um salto em direção à casa. Não havia nem necessidade de levantar voo, porém ficou intrigado com um rapaz montado em um cavalo que corria em sua direção, parecia um desafio e isso fez fumaça sair de suas narinas escamosas.
— Outra criaturinha insignificante, tem mais pressa para morrer do que os outros… Mas… Tem algo estranho com a energia desse… — o dragão não quis deduzir mais aquele enigma, pois ficou ofendido quando notou que um ataque sagrado estava sendo preparado.
A única coisa que os Woods viram foi o dragão expelir uma grande labareda de fogo, aquilo engoliu o paladino brilhante em tom alaranjado. Algo foi lançado por ele antes de ser alcançado pelas chamas, ainda escutaram um grande estrondo e um enorme rugido do dragão.
Espaço do escritor
A ideia dessa história veio com o desrespeito feito na série animada Dota onde os protagonistas começaram a matar dragão igual a galinha. Fiquei surpreso com aquilo “poxa, entendo o primeiro nerdcast de RPG, você dá uma grande força para os protagonistas, mas desse jeito do Dota, não”.
Por coincidência, já estava assistindo uma outra série de RPG bem legal chamada “The Legend of Vox Machina”, os dragões são um problemão lá, uma parada apocalíptica. Então pensei, se um dragão resolvesse criar uma toca numa região dominada por humanos, qual seria o impacto político no reino? E o impacto na produção de alimentos? O que um dragão secular pensaria sobre os humanos?