Eu estava lendo esta reportagem sobre a suspensão da importação da carne brasileira nos Estados Unidos e isso ser um reflexo da operação Carne Fraca. Fiquei pensando sobre uma coisa que até foi assunto no trabalho: será que se o Blockchain fosse utilizado no mercado de agronegócios o problema estaria resolvido?
Mas que raios é Blockchain?
O Blockchain foi desenvolvido, pela mesma pessoa que criou o Bitcoin, para ser usado como uma carteira digital. Resumindo bem resumidamente é o seguinte: é um conjunto de tecnologias para a criação de um livro-razão compartilhado em uma rede de negócios para a realização de transações seguras de ativos físicos ou digitais.
E o que é um livro-razão?
Este termo foi herdado da contabilidade mesmo, então resolvi dar uma olhadinha no Wikipedia. Segundo a definição que está lá, livro-razão é uma denominação para o principal agrupamento de registros contabilísticos de uma empresa. Ele é composto pelo conjunto de contas contábeis e é um “índice” para todas as transações que ocorrem em uma companhia.
No caso do Blockchain o conceito é parecido. Porém o nome é ledger em vez de livro-razão. O ledger é compartilhado, em vez de pertencer somente a uma companhia e contém todas as transações de todos os participantes de uma rede e a utilização não se aplica somente à fins financeiros.
Apareceu um monte de coisa nova agora né? Vou explicar melhor
O ledger consiste em um sistema de registros (um banco de dados) e esses registros são imutáveis, não podendo ser alterados ou excluídos (inclusive pelo administrador ou o desenvolvedor). Os registros contidos em um ledger são transações de um asset ou ativo (uma patente, um carro, uma música, dinheiro, …) entre dois participantes. Sim, o ledger é compartilhado entre todos os participantes mas isso não é um problema devido ao blockchain ser permissionado, e é justamente compartilhado para assegurar a confiança dos registros.
Cada participante de uma rede tem responsabilidades e restrições dependendo de cada perfil. Os reguladores tem total visão das transações realizadas, porém podem ser impedidos de realizarem novas transações; participantes que tem o papel de regulador podem ser os auditores por exemplo. Os usuários podem criar novas transações entre participantes, porém só podem visualizar os registros do ledger referentes a eles mesmos.
Agora é que vem a parte legal da parada!
Para a realização das transações é utilizada a lógica de consenso: uma solicitação de transação é encaminhada para toda a rede e deve ser reconhecida pela maior parte dos participantes validadores, 3 de 5 por exemplo. Um validador nada mais é que um participante que contém um Smart Contract (nada mais é que um programa que contém as regras de negócio necessárias para a realização de uma transação). Por exemplo:
● Se a parte A realizou o pagamento para a parte B de um produto;
● Se o produto condiz com o especificado;
● Se a carne passou nos testes necessários de qualidade. ← olha aí!!!
Estando a maioria dos participantes validando a solicitação de transação pelo Smart Contract a transação é realizada gerando um novo registro no ledger. Esse processo todo de consenso é realizado debaixo de muita criptografia para confidencialidade entre as partes. Esse recurso do contrato pode ser utilizado tanto quanto for necessário para mitigar brechas de fraudes, integração com o garçonzinho (dispositivos IoT), consulta de bases de laudos de análises químicas, fotos, etc.
Agora que todo o processo está explicado, vamos aos benefícios:
● Temos um processo que está pouco suscetível à falhas;
● Não é possível a realização de fraudes, pois não é dependente só de uma parte;
● O processo é totalmente rastreável e auditável;
Vamos colocar agora no cenário da carnes
Imaginem que o fazendeiro tem o seu gado e deseja vender o mesmo para os frigoríficos, algum órgão ou empresa reconhecida pelo governo pode ser responsável por verificar a autenticidade e a qualidade do boi e incluí-lo como um asset pertencente à fazenda na rede Blockchain. A partir deste ponto toda transação é rastreada, podendo alguma irregularidade ser identificada na sua origem.
Ao meu ver esta ferramenta poderia ajudar muito para verificar em que ponto de todo o processo desde o tratamento dos animais, do abate, conservação e exportação estão as laranjas podres.
Fontes:
Anderson Cardoso
Desenvolvedor/Analista de Sistemas, pai de família e gamer quando sobra um tempo. É como dizia um sábio wookie: “Uuuurrr Ahhhrrrr Uuurrr”.