Existem especulações de que Albert Einstein tinha um quadro de autismo leve, já chamado síndrome de Asperger. Outros concordam que Einstein talvez tivesse transtorno bipolar. Tudo isso se deve às suas características socialmente peculiares, interesses restritos e a fixação por eles. Segundo a biografia de Walter Isaacsson, que inspirou a recente série do NatGeo (imagem acima), a vida amorosa atribulada e sem freios de Einstein dá a entender que o físico talvez tivesse mais traços associados ao transtorno bipolar do que ao espectro autista — caso concordemos que ele possuía um quadro patológico.
Sabemos hoje que todos os transtornos são parcialmente explicados pela genética. Se a evolução basicamente trabalha via seleção natural e sexual, preservando genes associados a fenótipos que geram sucesso reprodutivo, o que explica a prevalência de transtornos psiquiátricos como autismo, transtorno bipolar e esquizofrenia?
Alguns pesquisadores acreditam que esses transtornos são o preço que nossa espécie paga pelo surgimento, via seleção natural, de níveis extraordinários de inteligência. Por exemplo, níveis altos de QI são mais prevalentes entre autistas do que na população geral. Da mesma forma, transtornos psicóticos, como bipolaridade, depressão maior e esquizofrenia, seriam efeito colateral de genes associados a altos níveis de criatividade e da própria capacidade humana de criar cultura e linguagem.
Uma nova teoria parece reunir evidências de que possivelmente o surgimento desses transtornos se deu também via seleção sexual. Em outras palavras, traços autísticos e esquizotípicos podem aumentar a atratividade das pessoas, aumentando as chances de sucesso reprodutivo.
Segundo essa teoria diametral dos transtornos (tradução livre), fenótipos autísticos e esquizotípicos não seriam espectros separados, mas lados opostos de um mesmo continuum de problemas do cérebro social, mas como resultado do extremo de diferentes estilos cognitivos.
Autismo e esquizofrenia como extremos de um mesmo espectro de problemas de socialização
O espectro autista e o continuum de transtornos psicóticos são caracterizados por diferentes estilos cognitivos. Por exemplo, autistas possuem uma cognição caracterizada pela sistematização. Maiores habilidades de sistematização têm a ver com uma espécie de “física do senso comum”, isto é, a capacidade de entender como objetos funcionam, como se dão leis físicas, de compreender mecanismos em geral.
Pessoas mais intensas em traços esquizotípicos, como as portadoras de bipolaridade, depressão maior e esquizofrenia, possuem cognição mais caracterizada por empatia. Em outras palavras, esses indivíduos são hábeis na “psicologia do senso comum”, isto é, na capacidade de entender e prever o comportamento alheio.
Por razões já discutidas em outra ocasião, homens tendem a dominar a física do senso comum, enquanto as mulheres, a psicologia do senso comum. Não à toa, a prevalência de autismo é maior entre homens, enquanto a de quadros psicóticos é maior entre mulheres. São extremos patológicos da cognição típica de cada sexo.
A ideia central é que essas diferentes características cognitivas, extremadas na forma de transtornos do cérebro social, teriam sido selecionadas ao longo da evolução via seleção sexual por aumentarem a atratividade de seus portadores. A possibilidade disso se converter em transtorno seria um mero inconveniente no cálculo de custo benefício biológico.
Por exemplo, esquizofrenia seria uma consequência patológica extrema de níveis altos de criatividade e de uma cognição hábil em desvendar a psicologia do senso comum. Na maioria das vezes, a mesma predisposição genética resulta em maior criatividade, habilidades artísticas e maior capacidade de socialização. Nas suas manifestações patológicas, a alta empatia/mentalização poderia se tornar delírio, paranóia e inferência de pensamentos e de intenções improváveis — os chamados sintomas positivos dos transtornos psicóticos.
Mas existe uma linha tênue entre psicopatologia e normalidade. Por exemplo, artistas visuais parecem ter sintomas psicóticos positivos tão altos quanto pacientes esquizofrênicos. Normalidade e patologia aqui dividem um bônus, a criatividade.
Artistas fazem mais sucesso com as mulheres, quando ambos preferem sexo casual
A criatividade tem um papel importante na mate psychology masculina. Homens mais criativos parecem ser considerados mais atraentes pelas mulheres, especialmente quando essa criatividade se mostra como realizações artísticas.
A arte parece ter relação íntima com o sexo casual. Homens artistas parecem ter maior preferência por relacionamentos que exigem menos compromisso. Isso porque artistas são muito criativos, e a criatividade faz toda a diferença. Da mesma forma, mulheres atraídas por artistas (ou por indivíduos altos em criatividade) têm a mesma preferência por relacionamentos mais casuais.
Em média, elas tendem a preferir relacionamentos mais compromissados mais do que homens, mas durante o período fértil essa tendência feminina se inverte. No período fértil tendem a preferir relacionamentos mais casuais, tanto que é mais comum uma mulher ser infiel durante esse período do que durante outros estágios do ciclo menstrual.
Isso levanta a possibilidade de que o conjunto de traços esquizotípicos foram selecionados via seleção sexual como adaptação para relacionamentos amorosos casuais.
Cientistas podem ser mais fiéis do que pessoas com menores níveis de traços autísticos
O espectro fenotípico de traços autistas oferece outro quadro. As variadas formas de autismo seriam o preço extremo patológico de traços presentes na população em geral de forma normal. Como já mencionado, geneticamente parece haver grande proximidade entre níveis elevados de inteligência e autismo. Por exemplo, indivíduos com QI alto parecem ter maiores níveis de sistematização, estilo cognitivo maximizado no autismo. Níveis altos de sistematização também parecem ligados a especialização técnica, o que indica boas chances de sucesso financeiro e alto status social.
Quanto mais intenso esse fenótipo, menor criatividade e menor nível de raciocínio verbal. Um fenótipo autístico também predispõe os indivíduos a maior introversão e menor abertura a novas experiências. Esses indivíduos terão círculo social mais restrito, diminuindo as chances de se engajarem em vários relacionamentos amorosos casuais, por exemplo. Essas características tendem a diminuir o sucesso reprodutivo.
Mas os critérios de atratividade não são tão “preto no branco” assim. O que é considerado atraente depende do contexto. Sujeitos altos no fenótipo autístico podem não ser criativos num sentido geral, mas parecem ter maior facilidade para se especializar e serem criativos em áreas técnicas, especialmente da ciência. Isso pode significar que esses indivíduos podem ganhar salários altos tendo empregos estáveis e altamente especializados. Em outras palavras, há altas chances de “sucesso cultural” — é engraçado pensar que pessoas “mais científicas” e “mais artísticas” de fato têm perfis mais compatíveis com diferentes tipos de relacionamento.
Sucesso cultural, na forma de maior status social, é extremamente apelativo para as mulheres em termos de critério de atratividade. Enquanto os homens prezam mais pela aparência física no sexo oposto, mulheres atribuem maior valor ao status social, uma pista importante que indica grandes chances daquele homem investir recursos na prole.
Mas ter recursos não é garantia de investimento parental. Por isso que nesse jogo de critérios de atratividade contam outros elementos. Traços autísticos predispõem a menos chances de infidelidade, o que parece fechar a equação para uma preferência e compatibilidade completa com relacionamentos mais compromissados. De fato, estudos mostram que apesar das amizades durarem menos, pessoas altas em traços autísticos tendem a ter relacionamentos amorosos mais longos do que pessoas com menos dessas características.
Temos aqui um padrão interessante emergindo: apesar de, em média, homens serem mais altos em traços autísticos e mulheres, em traços esquizotípicos, homens parecem ter maior sucesso reprodutivo quando nesses extremos fenotípicos, mas mulheres, não.
Os “bons genes” e o investimento parental
Traços esquizotípicos acabam funcionando como sinais de “bons genes”. Alguns estudos propõem que inteligência é um atributo correlacionado com saúde. Quanto mais saudável, mais inteligente. E a criatividade é um atributo que parece refletir o nível de inteligência. Esses sinais de saúde são importantes em relacionamentos de curto prazo. Já que não vai haver alto investimento parental na forma de recurso, nada mais justo que compensar isso fornecendo bons genes que gerem uma cria saudável. Esse é o cálculo implícito que a biologia da evolução faz ao moldar especialmente os mamíferos. Sendo assim, humanos que preferem relacionamentos pouco compromissados vão seguir a lógica dos “bons genes”.
A seleção sexual atua sobre as características masculinas nas duas direções, isto é, tanto no desenvolvimento de sinais de boa saúde, quanto no do desenvolvimento de sinais de alto status social. Isso é uma consequência da possibilidade humana de constituir sistemas de relacionamentos mais e menos compromissados. Essa variação claramente existe por motivos biológicos/evolutivos, e a variação de traços psicológicos e sociais ao redor desses sistemas parece corroborar isso.
Existe uma sobreposição entre as consequências reprodutivas das características extremas desse espectro diametral autismo-esquizotipia. Altos níveis de inteligência/criatividade indicam bons genes, mas também indicam boas chances futuras de acumulação de recursos. Isso pode ser verdade sobretudo em sociedades industrializadas, cujas habilidades necessárias para se especializar profissionalmente podem se misturar às características consideradas atraentes em relacionamentos de curto prazo. Homens inteligentes podem ser atraentes para mulheres que gostam de sexo sem compromisso, ou para aquelas que querem casar e ter filhos, mas por motivos diferentes.