Eu não sei vocês, mas eu sou “pé vermei”. Ih, nunca nem ouviu falar dessa expressão? Vem descobrir comigo.

Aqui em Minas, quando a gente diz que alguém é “pé vermei” (pé vermelho em PT-BR), estamos falando de alguém da roça (áreas rurais). O pé vermelho faz menção a cor da terra, que é avermelhada. Tem um pigmento tão forte que mancha a nossa pele.

Esse é um texto de pedologia, e se você não sabe o que é a pedologia (a ciência que estuda os solos), vem ouvir esse SCICAST que a gente conta tudo.

Como comentamos nesse episódio, as cores – ou matizes do solo, são um dos elementos analisados para os fins de classificação do solo. Nesse texto, vamos dar mais atenção a isso.

A cor de um solo diz muito sobre ele. Desde o nível de drenagem, a quantidade de matéria orgânica, a presença ou ausência de determinado mineral… Compreender isso é essencial na escolha das práticas de manejo a serem adotadas.

Por exemplo, solos escuros tendem a ser ricos em matéria orgânica.

Perfil de Organossolo – Fonte:Agência EMBRAPA de Informação Tecnológica

Enquanto solos claros tendem a ser bem drenados.

Cambissolo Háplico – Fonte: Agência EMBRAPA de Informação Tecnológica

No Brasil, como principal método de análise, utilizamos a Carta de Munsell. Trata-se de um livro com várias amostras de cores (matizes, valor e croma) para que, através da comparação, seja possível determinar a cor de um solo. Vou explicar.

Em campo, nós pegamos uma amostra de solo e folheamos o livro até encontrar a cor correspondente. Na Carta são encontradas 170 cores, aproximadamente. Cada uma com seu código que contem três caracteres diferentes:

  • Matiz: A matiz é a cor pura, vermelho (R) ou amarelo (Y)
  • Valor: Quanto de branco ou de preto há no solo
  • Croma: Qual a proporção das cores fundamentais, com tonalidade de cinza (variando de 0 a 10).

Carta de cores de Munsell. Fonte: Vazlon Brasil

Tá bom, mas o que dá a cor de verdade pra terra né?

Bom, se você reparou, as cores dos solos são vermelha e/ou amarela (as matizes da Carta de Munsell), que podem ser mais ou menos escuras. Isso ocorre por quê o principal agente de coloração é o Ferro.

O Ferro se manifesta – principalmente, de duas maneiras. Através de sua forma reduzida Fe² ou de sua forma oxidada, Fe³. E o Ferro oxidado (Fe³) ainda pode se expressar como hidratado, na forma do mineral Goetita (FeO)OH)) ou desidratada como a hematita (Fe2O3).

A hematita é a principal responsável pela coloração vermelha dos solos. Não disse que eu sou pé vermei? Os solos ricos em hematita – e vermelhinhos, são muito comuns de serem encontrados nas áreas ricas em minério de ferro.

Perfis de Latossolo Vermelho. Fonte: Calderano Filho et al (2012)

Já o solo amarelado é pobre em hematita mas rico em goetita.

Latossolo amarelo – Fonte: Agência EMBRAPA de Informação Tecnológica

E se o solo for acinzentado, nem vermelho, nem amarelo é pela ausência do ferro oxidado.  O ferro oxidado é um pigmento muito forte, basta um pouquinho pra colorir bem o solo. Isso é muito comum em áreas de brejo, pantanosas… as chamadas Várzeas. Nesse caso, o ferro encontrado no solo, pode ou não estar reduzido.

A redução do ferro é muito comum em lugares que são, constantemente, saturados por água (ambientes hidromóficos). O solo é acinzentado e temos uma classificação de solo exclusiva dessa combinação (ambientes saturados de água e solos acinzentados) os gleissolos.

Gleissolo.
Fonte: PronaSolos Paraná.

Agora, quem é mais vivido, vai lembrar que existia, antigamente a tal da Terra Roxa né? Uma região grande no sul de Minas Gerais, São Paulo, Paraná era classificada assim. Mas calma, que a terra não é roxa, é vermelha. Como a região é de imigrantes italianos e seus descendentes, esses diziam “Rosso” que é vermelho em italiano… mas aportuguesamos tudo e o Rosso virou Roxo.

E então? Qual a cor a terra tem aí perto de você?

 

Sugestão de leitura sobre química dos solos:

O que você sabe sobre química do solo parte 1

O que você sabe sobre química do solo parte 2

O que você sabe sobre química do solo parte 3