Um jovem cheio de rancor caminhava dentro das instalações da terceira maior torre da Ootsuka, considerado o executor de tarefas mais talentoso da sua geração, um verdadeiro achado para a divisão de operações da corporação.
Lee caminhava com tranquilidade e indignação ao saber a verdade sobre o paradeiro de sua irmã. No subsolo, a entrada não era permitida para ele, que teve um certo trabalho para conseguir um cartão de acesso de uma funcionária do setor. Por um momento, teve peso na consciência pelo que fez, mas voltou seu foco na busca por sua irmã nas instalações inferiores dizendo a si mesmo que a culpa era deles.
Foi recrutado seis anos atrás ainda adolescente para ser treinado e estava atuando há quase três anos. O motivo de sua frustração com a empresa veio quando esta quebrou a tradição, pois sua irmã foi recrutada há dois anos pelo talento como hacker. Cada família deveria ceder apenas uma criança para a organização, caso fosse solicitado. A irmã foi sequestrada ao voltar do internato para casa no final de semana. Lee demorou meses até descobrir quem estava por trás disso. Precisou de quase um ano para localizar sua irmã e preparar uma operação de resgate e um plano de fuga ousado para o nordeste do país.
Caminhou calmamente até o terceiro andar cruzando com vários funcionários e alguns poucos seguranças. Aproveitou quando um grupo passava para acessar uma saída de incêndio, era por ali que desceria até o subsolo quatro, área de contenção beta, onde sua irmã estava sendo mantida.
Lee tentava manter a concentração, mas a ideia de colocar hackers confinados em um laboratório era uma forma de a corporação esconder que tinha violado as regras. Ele sabia que seria perseguido pelo resto da vida, mas continuou com a missão de salvar a irmã e repetia em pensamento que a culpa era da corporação.
Alguns minutos depois, Lee estava na entrada, passou o cartão de acesso e entrou calmamente. Observou dois funcionários com roupas de cientistas, o primeiro estava num escritório e o segundo estava em frente a um dos laboratórios.
Caminhou silenciosamente pelas sombras e entrou no escritório. O funcionário fazia um relatório no computador e mal percebeu quando foi puxado para baixo com uma mão na boca enquanto recebia uma sedação no pescoço. Em menos de um minuto, já estava desacordado.
Poucos minutos foram necessários para derrubar e imobilizar o outro, então entrou com menos cuidado no laboratório onde deveria estar sua irmã, mas a visão foi de algo completamente diferente do que imaginava.
A sala era bem fria. No centro, havia dez cilindros de quase meio metro cheios de líquido e muitos fios. Ele nem notou, pois do outro lado um funcionário olhava para o oriental muito espantado. A saída estava bloqueada por Lee e o funcionário não tinha como pedir ajuda, já que não havia comunicação interna ali.
Lee olhava para os tubos e via cabeças conectadas a cabos e fios, alguns rostos com alguma frequência se contorciam de dor como se tivessem alguma agonia passageira. Ele foi treinado para não demonstrar nenhuma emoção, mas se permitiu fechar os punhos enquanto procurava por ela, pois o ódio não deixava sua mente.
Então, deu alguns passos para frente. O funcionário imaginou que poderia tentar uma fuga, mas o olhar dele se encontrou com Lee que não demonstrava nada. Um arrepio subindo em suas costas, fez o funcionário voltar vários passos para trás até encostar na parede.
Lee caminhou em sua direção, fazendo-o rezar e apelar para tudo que lembrava. Agarrou o jaleco e arrancou o cartão de acesso. Depois acertou um soco tão forte no queixo do cara, que apagou, esse passaria alguns meses até voltar a mastigar. Em seguida foi em direção ao terceiro tubo, desconectou todos os cabos. Aguardou alguns minutos até a vida deixar aquele recipiente. Em seguida destravou o tubo, enrolou com o jaleco, enquanto se lembrava do plano de fuga.
Quando saiu do laboratório jogou por toda a parte algumas mini-granadas que começaram um pequeno incêndio. Depois que explodiram, as luzes auxiliares acenderam e Lee tinha o caminho iluminado para a saída de emergência mais próxima.
Caminhou calmamente para fora do edifício enquanto funcionários saiam de forma desorganizada para fora, a fuga deles chamava bastante atenção na rua, mas as mensagens e informes internos diziam que era apenas um alarme falso, não havia motivo para preocupação.
Depois que saiu, rapidamente se dirigiu a um beco que estava a quatro quarteirões dali, sua moto estava dentro da área de carga e descarga da loja de um conhecido, Lee pagou uma grana para usar o local. Não demorou nem meia hora para chegar lá, porém, quando entrou no beco, um conhecido estava à sua espera.
Um jovem usando roupas escuras com os símbolos da Ootsuka segurava uma pistola na mão e tinha uma katana especial nas costas, parecia decepcionado com seu irmão de armas, pelo menos ainda o considerava um irmão de formação. Acabou perguntando o que ele fez para virar um traidor.
Lee colocou o embrulho no chão com cuidado bem próximo a parede esquerda, sacou sua espada e ficou em posição de combate enquanto explicava que ele é quem tinha sido traído, falou sobre o acontecido e o porquê da atitude dele. O jovem sorriu com sinceridade, voltou a chamar Lee de instrutor, era uma alegria saber que não era um traidor. Guardou a arma e pegou a espada dele, falou que era uma triste coincidência, mas era responsabilidade dele não deixar que Lee escapasse com vida dali, em seguida fez um sincero comprimento demonstrando grande respeito e começou o ataque.
Fez um movimento rápido com um super salto digno de quem está dopado com alguma substância, realizando um golpe fulminante que teria matado qualquer um sem treinamento. Lee nunca tinha visto o ataque especial de Kenta, ficou feliz e orgulhoso, mas seu reflexo estava no máximo e seu contra ataque foi sem piedade. Kenta fez um belo ferimento entre as costelas de Lee, mas seu antigo instrutor arrancou boa parte do seu antebraço junto com a mão que segurava a espada. Em seguida Lee cravou e girou a espada na coxa de Kenta, causando uma dor terrível que fez o jovem desmaiar e ficar totalmente incapacitado para o combate. Lee fez um movimento reconhecendo a força do oponente, pegou o recipiente e sumiu do local o mais rápido possível.
Alguns meses depois, Lee estava numa cidade no nordeste do país. O dia ensolarado contrastava com a poluição e com a sujeira da cidade, barulhenta por causa dos carros e do volume de pessoas que caminhavam por ali. Estava sem um modificador, precisou de semanas para poder voltar a se conectar na grande rede, não queria ser encontrado e precisava de segurança para continuar escondido. Dos olhos, algumas lágrimas escorriam, isso não acontecia desde a infância. Quando entrou na rede, uma mensagem apareceu imediatamente, ele ficou intrigado, mas era da sua irmã. Ela agradeceu pelo resgate, escreveu que o irmão dela jamais a abandonaria. Então Lee lembrou da colina onde enterrou a irmã com duas árvores de cerejeira próximas à vila onde viveram por toda a infância.