Olá, Deviantes e povo amante da ciência. Neste meu último texto do ano, gostaria de falar um pouco mais sobre o final da Copa do mundo de 2022, que foi disputada no Catar, e deixar algumas reflexões, já que nada mais coerente de usar essa reta final ou a tão tradicional virada de ano para pensar e fazer balanços do ano que está para acabar.
O título do texto é uma alusão à composição feita em 1958 em comemoração ao título mundial da nossa seleção canarinho e que, infelizmente, neste mundial não conseguiu repetir. Gostaria de deixar alguns pontos e talvez instigar os leitores a algumas abordagens diferentes sobre o esporte.
Não quero mudar a opinião de ninguém e nem influenciar os mesmos, mas acho que seria interessante entender os vários contextos sociais, políticos e esportivos desse esporte que, com toda certeza, é o maior campeonato disputado em todo mundo.
Fico feliz também de ter tido a oportunidade de gravar um Scicast com uma equipe maravilhosa, onde abordamos a história de todas as copas até a presente. Para quem gosta de futebol é um belo aperitivo e com certeza vai ficar para consultas futuras, assim como o ótimo Scicast falando sobre a ciência por trás do futebol.
É pessoas, perdemos mais uma copa. Foi frustrante ter uma seleção que, por muitos (no mundo inteiro), era considerada uma das favoritas e acabamos ficando novamente pelo caminho e nas quartas de finais.
Seria fácil apontar o dedo para fulano ou ciclano, mas como em toda derrota, principalmente nas da seleção, acabamos sendo influenciados pelo sentimento e “colocando para escanteio” a razão.
O Brasil talvez tenha uma característica que poucos devem ter, temos aproximadamente duzentos milhões de técnicos de futebol, isso porque estou tentando excluir os bebês e aqueles que realmente não ligam, ou até mesmo aqueles que não puderam aproveitar essa copa por motivos diversos.
Apontar erros é muito fácil e qualquer criança consegue dominar essa expertise, mas, como adultinhos, temos alguns pontos interessantes que gostaria de abordar com vocês, e novamente, não vou escalar seleção ou dizer quem deveria ou não bater pênaltis (apesar que nessa segunda fica escancarado o nível de displicência de certo jogador, ok, opinião dada, voltamos para o texto), isso porque existem muitos jornalistas gabaritados que deram contribuições fantásticas para o esporte e como talvez a seleção deveria ter se comportado.
A primeira reflexão que eu gostaria de dar, é o contexto político que estávamos passando até a o Mundial. Um ano de eleição em que a grosseria e o jogo sujo de muitos, trouxeram um clima pesado para o país neste ano de 2022.
Conforme as eleições foram se aproximando a temperatura foi subindo e o “campo político” foi ficando cada vez mais hostil, até chegar o segundo turno, que foi o ápice do jogo. Era nítido um clima de racha entre os brasileiros.
E por que essa reflexão é importante? Os mundiais são realizados no meio do ano, final de temporada europeia ou, para quem é da educação como eu, no período de férias escolares. E se todos tentarem puxar um pouco a memória, talvez vão se lembrar das suas ruas pintadas de verde amarelo, talvez algumas fitinhas penduradas no alto e alguns muros retratando o rosto, ou alguma jogada de um craque no futebol brasileiro (ou algum jogador midiático desse mundial).
Nesse contexto político, tínhamos bem claro a apropriação de muitos fanáticos da bandeira brasileira, assim como a camisa da seleção. E até o início da Copa, e me arrisco a dizer, “até os acréscimos”, aqueles que amam o futebol esperaram para tirar a sua camisa do armário para torcer pela seleção.
Não sou profeta nem sensitivo, mas a Copa tem esse poder de unir. Talvez, e espero sinceramente que em algum lugar, onde a política separou, esse breve momento tenha trazido uma aproximação para algumas pessoas e famílias.
A política já usou o futebol inúmeras vezes para tentar mostrar suas virtudes, ou até mesmo esconder suas atrocidades, e para quem gosta de estudar esse assunto e quer se aprofundar mais, tenho a certeza de que levará dias para vocês entenderem como esse esporte tem dois lados muito bem definidos e que, por licença geek (poética), vou chamá-la de “dos dois lados da força”.
Então acho que a primeira reflexão seria: Será que conseguimos separar a política do futebol? Aqueles que estavam de um lado ou de outro, e que também entraram em campo são isentos ou não são afetados por esse contexto?
O outro ponto que quero abordar é a união dos povos. A Copa do Catar, começou com muita polêmica e problemas externos nunca vistos, apesar de ter entregado tudo o que foi prometido em termos de estrutura e estádios.
O torneio de seleções que tende a juntar países e povos diferentes, teve pontos importantes a ser abordados. Muito se falou de a Copa ser sediada em um país onde os direitos humanos são claramente desrespeitados, onde mulheres e pessoas das mais variadas opções sexuais são brutalmente assediadas moralmente e nos casos extremos são presas e tem duras penas de uma lei retrograda e extremamente violenta.
No Brasil acredito que isso foi muito pouco falado. Algumas reportagens pipocaram de um lado para o outro abordando esse assunto, mas a imprensa internacional foi implacável e pesou a mão às vésperas da Copa. E eu não quero deixar uma impressão de que, no Brasil, o povo não liga para essas para esses assuntos, porque isso é outra questão, mas com certeza a imprensa mundial, abordou o assunto tardiamente e tentou compensar isso com uma enxurrada de matérias acusando o país catari de ser uma monarquia absolutista que lutará contra tudo e todos.
Com certeza qualquer tipo de monarquia no mundo de hoje é estranho e retrogrado, países não democráticos tentem a perder a mão e ter relações complicadas com o resto do mundo ou ser vistos de forma diferente entre aqueles que tem bom senso. Mas eu gostaria de destacar uma entrevista do treinador do Liverpool, Jurgen Klopp, em que ele foi indagado sobre a Copa ser no Catar durante coletiva antes de um jogo da Premier Legue: “Ninguém fez nada, agora deixem os jogadores jogar”.
Nessa entrevista ele deixa muito bem claro o desleixo que foi a cobertura desde o resultado em que a FIFA chancelou Rússia e Catar como países sedes. A Rússia, depois das Olímpiadas de Inverno e da Copa, acabou entrando para história como um país autoritário que invadiu seu vizinho para anexá-lo, e não como sedes de torneios importantes, ou alguém lembra da Copa na Rússia?
A segunda reflexão seria: será que realmente filtramos o que julgamos ser certo? Por que os países demonstram que são contra determinadas políticas e, no final, dão as mãos ou fecham os olhos para casos atrozes que acontecem internamente nestas sedes?
O outro contexto que gostaria de abordar é o futebol em sua essência.
O Brasil é o país do futebol, não tenho dúvidas sobre essa afirmação. Os ingleses inventaram, mas nós somos o país que realmente vive intensamente isso.
O futebol é a nossa cultura, temos o rei do futebol e cinco estrelas para ostentar. Existe aquela frase: “trocamos de emprego, de vida, de estilo, mas não trocamos o time de coração (sei que muitos não têm time, mas, mesmo aqueles que não acompanham, têm um time de coração).
A nossa seleção fez uma Copa aquém das expectativas e, como sempre, fazemos os exercícios da terra arrasada, menos de vinte quatro horas depois já discutíamos o novo técnico da seleção, tínhamos uma seleção péssima, má treinada e que essa copa “com certeza, foi a pior que vi”, frases e pensamentos que dominaram as residências, comércios e trabalhos de todos.
Mas será que realmente o ciclo foi ruim? Infelizmente o brasileiro não gosta de esporte, e sim de ganhar. Eu sempre gosto de dar o exemplo do tênis, se você conhece o esporte, o primeiro nome deve ter sido do Gustavo Kuerten. Alguns devem pensar que ele é o único representante do Brasil neste esporte, o que claramente não é. E infelizmente vivemos de memorias passadas (lembrando que Guga se aposentou em 2008).
A Fórmula 1 sofre o mesmo problema, “na época do Senna…”, “Esse Rubinho é muito ruim…”, tivemos pilotos brilhantes, mas só lembramos daqueles que realmente venceram, e claro, com todos os méritos, e esquecemos daqueles que também foram importantes para o esporte.
Rubens Barrichello foi campeão em todos as categorias que passou e recentemente, foi bicampeão de Stock Car aos cinquenta anos, se ele fosse tão ruim assim, será que ele ficaria por dezoito anos em uma categoria em que os pilotos são os melhores e devem se aprimorar a cada dia (quero deixar um adendo aqui, porque a Fórmula 1 passa por um processo parecido com que a FIFA tem em termos de dinheiro e influencia política, não é a toa que muitos pilotos, hoje em dia, são os chamados de pagantes, e vou explicar melhor em um texto futuro sobre o assunto).
Voltando para o futebol e para a reflexão sobre a seleção: será que todos os jogadores são culpados pela derrota? E o técnico? Os jogadores são pessoas como a gente, eles não têm direito a ter um dia ruim como todos nós? Será que o trabalho de seis anos deve ser jogado no lixo e ser refeito do zero?
E esse último paragrafo está sendo escrito por um apaixonado pelo esporte, pois escrevo ele trinta minutos depois da grande final que foi Argentina e França, talvez a maior Final de Copa de todos os tempos.
Para os amantes do futebol, vimos emoção, raça, luta, alegria e tristeza, tudo misturado em um placar que levou até a disputa das penalidades máximas. Assistir o jogador que muitas vezes foi contestado, que aposentou de sua seleção, voltou para a sua última Copa, fez um torneio brilhante e ver ele levantar a taça no final… foi espetacular.
A Argentina, que não ganhava desde 1986 com o seu ídolo máximo Maradona, agora tem alguém que faz jus ao mesmo, Lionel Messi. Espero que todos fiquem bem e boas festas!
Saiba mais:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/05/150527_entenda_fifa_lab