Você está passando pelo corredor da faculdade indo de uma aula para a outra. No caminho, você vê uma moça claramente precisando de assistência, pois ela está sentada num canto gemendo de dor. Se você estivesse nessa situação, o que você faria? A resposta não é tão simples quanto parece. Na realidade, pesquisas apontam que depende. Depende de vários fatores. Você estava atrasado para sua próxima aula ou estava com tempo? Existiam mais pessoas presentes na cena? Como você estava se sentindo naquele momento? Todas essas variáveis influenciam seu comportamento, mesmo que você não se dê conta disso.
Em 1973, os pesquisadores John Darley e Daniel Batson da Universidade de Princeton nos Estados Unidos resolveram investigar sobre o comportamento pró-social, ou de ajuda, e entender se as motivações para tal era mais intrínseca ou se eram determinadas pelo ambiente. Para isso, eles reuniram alunos do ensino superior e os informaram que eles tinham que preparar um discurso e fazer uma apresentação sobre determinado tópico.
Para metade dos participantes, eles falaram que o discurso seria sobre oportunidades de trabalho. Para a outra metade, o discurso seria sobre a parábola do Bom Samaritano, uma história bíblica que fala sobre ajudar o próximo e sempre agir a favor do bem. Pois então, após essa sessão de instruções, os cientistas avisaram os participantes que seria necessário se deslocar para outro prédio para apresentar seus respectivos tópicos. A partir daí, eles dividiram os participantes em três grupos. O primeiro grupo foi avisado que se eles saíssem agora da sessão, chegariam no local da apresentação antes do horário. O segundo grupo foi avisado que se eles saíssem agora eles chegariam no horário. E o terceiro e último grupo foi comunicado que eles já estavam atrasados.
No caminho para o outro prédio, cada participante cruzou com um estranho caído no chão, tossindo e mostrando que estava sentindo dor. No geral, 40% das pessoas ofereceram algum tipo de ajuda ao desconhecido. Dos que estavam com tempo, 63% pararam para oferecer assistência. Daqueles que estavam com horário, 45% ajudaram. E o número caiu para apenas 10% quando os indivíduos estavam atrasados. Mesmo aqueles que iriam apresentar sobre o Bom Samaritano eram menos prováveis de parar para ajudar caso eles estivessem atrasados. Os resultados são interessantes para a ciência pois eles nos mostram que nossas ações são influenciadas por fatores que não imaginamos.
Estar atrasado pode influenciar o nível de altruísmo de um indivíduo, mas há outra variável significativa: o número de pessoas presentes na cena. Intuitivamente, podemos pensar que quanto mais pessoas estiverem presentes, maior a probabilidade de alguém ajudar quem precisa. No entanto, não é bem assim. O “efeito espectador” ou “efeito testemunha” é amplamente estudado pela Psicologia Social. Esse fenômeno descreve como a presença de múltiplas pessoas pode, paradoxalmente, diminuir a probabilidade de que qualquer uma delas ofereça ajuda. Pesquisadores investigam como o número de testemunhas afeta o comportamento de assistência, frequentemente revelando que, com mais pessoas presentes, a responsabilidade é diluída e cada indivíduo se sente menos obrigado a agir.
Darley e Latané demonstraram esse efeito através de um estudo no qual recrutaram estudantes de uma faculdade de Nova Iorque. Os estudantes acreditavam que o experimento era sobre se familiarizar com a vida universitária. Usando um sistema de intercomunicação, os alunos compartilhavam suas experiências sobre a nova vida de estudante. No entanto, eles não sabiam que não havia ninguém do outro lado da linha; estavam apenas ouvindo áudios pré-gravados. Após alguns minutos de conversa, um dos alunos (na verdade, um confederado), finge sofrer um ataque epiléptico e pede socorro.
Os pesquisadores dividiram os indivíduos em três grupos. No primeiro grupo, os alunos acreditavam que apenas eles e a vítima participavam da conversa. No segundo grupo, eles achavam que havia três pessoas na conversa. No terceiro grupo, eles acreditavam que eles estavam falando com mais quatro alunos. Entre os participantes que pensavam estar sozinhos com a vítima, 85% ofereceram ajuda. Quando acreditavam que havia mais uma pessoa, a chance de ajudar caiu para 62%. E essa taxa despencou para 32% quando pensavam que havia quatro ou mais pessoas assistindo à crise epiléptica.
Os resultados das pesquisas acima nos revelam a complexidade do comportamento humano perante à situações de emergência. A partir disso, podemos ver que fatores externos, como a pressão do tempo e a presença de outras pessoas, têm um impacto significativo sobre nossa disposição de ajudar os outros.
Essa compreensão nos dá implicações importantes para a forma que organizamos ambientes de trabalho, escolas e espaços públicos. Em locais onde é crucial a ajuda rápida, como hospitais, é necessária a criação de estratégias para mitigar o “efeito espectador”, implementando treinamentos específicos para aumentar a percepção de responsabilidade individual ou a designação de papéis claros em situação de emergência.
Além disso, para promover uma sociedade mais empática e prestativa, é interessante criar ambientes que facilitem o comportamento de ajuda, reduzindo pressões de tempo desnecessárias e incentivando uma cultura de responsabilidade compartilhada através da educação e projetos de conscientização da população.
Por fim, quando compreendemos as nuances do comportamento pró-social, podemos melhor equipar indivíduos e comunidades para responderem de forma mais eficaz em momentos de necessidade, fortalecendo assim os laços de cooperação e apoio uns com os outros.