“O nitrogênio em nosso DNA, o cálcio em nossos dentes, o ferro em nosso sangue e o carbono em nossas tortas de maçã foram produzidos no interior de estrelas em colapso. Nós somos feitos de poeira de estrelas.”
Em meu texto anterior, falei um pouco sobre o ciclo de vida de estrelas que tenham até oito vezes a massa do nosso Sol. Agora vamos ver um pouco sobre estrelas maiores e como isso está relacionado com a origem dos elementos químicos.
Origem dos elementos químicos
Estrelas que têm mais de oito vezes a massa do Sol começam a queima de seu combustível da mesma forma que as estrelas menos massivas: com a fusão de hidrogênio em hélio. Quando o hidrogênio acaba, a estrela começa a colapsar, o que aumenta a temperatura e a pressão do núcleo, possibilitando a fusão de hélio em carbono, enquanto o hidrogênio em camadas mais externas começa a se fundir, expandindo a estrela.
A força gravitacional no núcleo dessas estrelas é muito alta, devido à sua grande massa. Isso faz com que a temperatura alcance valores muito superiores às encontradas nas estrelas de massas menores. Essa temperatura é alta o suficiente para que, quando o hélio acabar e o núcleo de carbono se contrair, o processo reacional tenha continuidade. Assim, o carbono no núcleo começa a se fundir, gerando neônio. Acabando o carbono, o neônio se funde, gerando oxigênio. Depois é formado silício e, finalmente, ferro.
A cada uma dessas diferentes reações de fusão, há energia sendo liberada em quantidade cada vez menor, sendo que, chegando ao núcleo de ferro, este é tão estável que, para que a fusão desses átomos ocorra, é necessário o consumo de energia.
Por isso, quando o núcleo de estrelas massivas se torna um núcleo de ferro puro, a compressão devido à atração da gravidade sobre si mesmo faz com que o núcleo colapse sobre seu próprio peso.
Se a massa do núcleo for menor que três vezes a massa do nosso Sol, o colapso do núcleo pode ser interrompido pela pressão de nêutrons. Nesse caso, o núcleo se torna uma estrela de nêutrons. Se a massa do núcleo for maior que três massas solares, nem mesmo a pressão de nêutrons é suficiente para resistir à gravidade e o núcleo colapsa num buraco negro estelar.
Em ambos os casos, as camadas externas da estrela são ejetadas para o espaço numa grande explosão chamada supernova.
O gás ejetado se expande, enriquecendo o meio interestelar com todos os elementos sintetizados durante o tempo de vida da estrela e na própria explosão. Esses remanescentes da supernova são os centros de distribuição química do universo.
Se o núcleo de ferro é tão estável, como existem elementos químicos mais pesados?
Durante os poucos segundos em que o colapso ocorre, condições especiais de temperatura e pressão existem na supernova. Essas condições permitem a formação de elementos mais pesados que o ferro.
Os elementos recém criados são ejetados na forma de uma nuvem de gás que contém cerca de 90% de hidrogênio, 9% de hélio e 1% de átomos mais pesados. Além disso, ao redor da estrela colapsada há também “poeira” que contém silicatos, carbono, ferro, água em forma de gelo, metano, amônia e algumas moléculas orgânicas pequenas, como o formaldeído.
Com exceção do hidrogênio, que já estava presente desde o Big Bang, todos os elementos do universo, da galáxia, da Terra e de nós mesmos foram fabricados ao longo de bilhões de anos no interior de estrelas e liberados no universo através da morte de muitas delas, seja com a formação de nebulosas (no caso de estrelas pequenas) ou de supernovas (no caso de estrelas grandes).
“O cosmos também está dentro de nós. Somos feitos de poeira de estrelas. Somos uma forma do próprio cosmos conhecer a si mesmo.”
Referências
RUTH, C. Where Do Chemical Elements Come From? ChemMatters, October 2009.