“Foi às dez da manhã de hoje que a primeira Máquina do Tempo começou sua carreira. Fiz uma revisão geral, apertei todos os parafusos, pus mais uma gota de óleo na alavanca de quartzo e me acomodei no assento.”
Diferentemente das muitas histórias envolvendo viagem no tempo que surgem em livros, filmes e séries ao longo dos anos, esta não é sobre as consequências da viagem, como encontrar sua mãe quando jovem e quase impedir seu próprio nascimento ou mesmo você ser sua própria avó.
Publicado em 1894 como folhetim e um ano depois como livro, A Máquina do Tempo de H. G. Wells foi uma das primeiras histórias a se utilizar de uma máquina para realizar a viagem no tempo e, sem dúvida, foi a história que consolidou o tema no imaginário das pessoas.
A história se inicia com o narrador contando sobre uma primeira visita à casa do, aqui já denominado, Viajante no Tempo. Nessa visita, o Viajante conta a alguns amigos sobre um conceito em que ele está trabalhando: a geometria de quatro dimensões, sendo que a quarta seria o tempo.
Não sei vocês, mas eu gosto muito de ler livros antigos e perceber coisas desse tipo: H. G. Wells colocou o espaço quadridimensional (comprimento, largura, altura e tempo) em sua história, quando Einstein ainda era adolescente. Somente dez anos depois da publicação de A Máquina do Tempo, o físico publicou seus trabalhos sobre a teoria da relatividade, em que é utilizada a ideia das quatro dimensões na geometria do espaço-tempo, substituindo os dois conceitos utilizados de forma independente na teoria de Newton.
Bom, voltando ao livro. O Viajante, então, revela que, usando essa geometria, seria possível viajar em qualquer direção das quatro dimensões e mostra aos amigos uma máquina construída para tal viagem.
“Partes da máquina eram feitas de níquel, outras de marfim, e partes tinham sido limadas ou serradas em blocos de cristal de rocha. O engenho parecia estar completo, mas as duas barras de aspecto cristalino e forma retorcida ainda estavam pousadas sobre a mesa de trabalho por entre algumas folhas de papel coberta de desenhos e dei um passo para observá-las mais de perto. Pareciam ser de quartzo.”
Os amigos do Viajante juntamente com um jornalista e o editor do jornal local são chamados para uma nova visita na semana seguinte. Após um atraso do anfitrião, o jantar é servido e, de repente, o Viajante aparece sujo e todo machucado na sala de jantar. Ele, então, começa a narrar a história que se iniciou às dez da manhã daquele dia.
“Tomei numa mão a alavanca de acelerar e na outra mão a de parar. Empurrei a primeira e logo em seguida a segunda.”
O Viajante chega ao ano de 802.701 e vê plantas diferentes, mas não vê animais. Ao encontrar com humanos, ele observa que as pessoas são “infantilizadas”: mesmo os adultos são pequenos e passam o dia brincando. Não há trabalhadores, apesar de todas as pessoas usarem roupas bem costuradas.
Passado o dia ali no futuro, o Viajante volta ao local em que sua Máquina ficou estacionada e… ela havia desaparecido! A partir daí, o Viajante vive por alguns dias em 802.701 tentando descobrir onde está sua Máquina e tentando entender como funciona a sociedade ali composta pelos pequenos Elois e os estranhos Morlocks, que ele encontra posteriormente. Além da ação em que o Viajante acaba se colocando em sua busca para voltar para casa, há uma discussão e crítica social, como é comum nas obras de H. G. Wells.
Apesar do livro já ter mais de 100 anos e diversas adaptações cinematográficas, vou evitar os spoilers do restante da história, caso você ainda não tenha lido. Mesmo sendo um livro tão antigo e de hoje estarmos mais do que acostumados com o tema de viagem no tempo é muito interessante ver a partir de onde tudo isso veio. Dito isso, em 2020 ainda vale muito a pena ler a Máquina do Tempo!
Se quiser saber mais sobre o autor: Scicast #85
Capa: adaptação da capa do livro publicado pela Companhia das Letras no selo SUMA.