Será que seria importante ter filosofia como componente curricular obrigatório no Ensino Médio? Alguns alegam que ela não foi descartada, mas, ao que tudo indica, não há como garantir que será mantida. Ao mesmo tempo que os documentos buscam defender um lado “mais humano” da educação, na prática, parece que não é possível que isso se realize. Se consideramos que a formação ética é uma dimensão humana importante a ser desenvolvida, seria interessante pensar nessa perspectiva.

O texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) menciona que “[…] é também finalidade do Ensino Médio o aprimoramento do educando como pessoa humana, considerando sua formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”.  Até aí parece haver uma preocupação com questões envolvendo o ser humano nas suas dimensões éticas, mas falta pontualidade dentro dessa reforma do Novo Ensino Médio.

Não parece possível que se realize o dito “aprimoramento como pessoa humana”. Na teoria são obrigatórios os estudos da filosofia, mas na prática eles aparecem diluídos em outras disciplinas. Não há garantias de que o tema da ética, tão importante para uma formação reflexiva, será trabalhado de forma curricular, ou que os estudos de filosofia serão de fato levados em conta. Isso porque a própria disciplina de filosofia está perdendo importância.

Quem encaminharia os assuntos normalmente abordados pela filosofia? O professor de história? Ou seria a literatura a responsável por esses estudos? Outras áreas não podem discutir o tema da ética como a filosofia o faz, pois, a disciplina num currículo tem o papel de delimitar uma área de conhecimento. A disciplina de filosofia é uma espécie de guardiã da constituição histórica dos conceitos, teorias, problemas, e todas as dimensões da ética, nesse sentido de conhecimento.

É importante não nos deixarmos seduzir por uma promessa de flexibilidade e liberdade, que aparece em diversos documentos educacionais na atualidade. Muitos documentos falam em tornar a educação e a escola mais divertida, aprazível e mais de acordo com os desejos dos alunos (crianças e adolescentes). Essa ideia de liberdade e flexibilidade tem a ver com a tentativa de tornar a educação mais agradável e prazerosa de acordo com os desejos do aluno, porém pode significar diminuir a importância daquilo que é o principal da escola como instituição: o conhecimento.

Nem sempre a vontade das crianças estará de acordo com aquilo que elas deveriam aprender dentro de uma ideia de formação. Na verdade, é possível que geralmente o desejo do aluno esteja voltado para o lado contrário do que lhe é necessário. Longe de gerar autonomia ou protagonismo, essas perspectivas criam uma espécie de abandono, como alguns estudiosos do tema recentemente acabaram sugerindo

Isso porque os adultos, aqueles que deveriam se responsabilizar pela função ética da educação e da humanização, acabam por se eximir de fazer escolhas pelos mais jovens, deixando-os à mercê de sua sorte. Acabam condenados a escolher dentro de um leque de opções desconhecidas, já que muitas disciplinas tratam de conhecimentos que os alunos nunca viram no Ensino Fundamental (o caso da filosofia, por exemplo).

Qual seria a capacidade cognitiva/emocional de crianças para escolher por um caminho definidor de seu processo formativo?