Com a evolução da automatização, da robótica e da inteligência artificial (IA) a tendência é que os postos de trabalhos sejam reduzidos ao longo dos anos. A crescente coexistência entre robôs e humanos é inevitável. O que podemos fazer é discutir e implementar soluções para uma transição benéfica e humanista. Caso contrário, o resultado à longo prazo será o aumento do desemprego, da desigualdade e da extratificação social.

Os tecno-otimistas dirão que a Revolução Industrial é uma prova de que as revoluções não resultam, necessariamente, em desemprego e desigualdade. Mas, desta vez, é diferente. É preciso um novo contrato social e uma verdadeira revolução cultural. Séculos de vida dentro da economia industrial condicionaram as pessoas a acreditarem que o nosso papel na sociedade e a nossa identidade está ligada ao trabalho produtivo e assalariado. Precisamos repensar isso. A maioria das soluções passam pela reciclagem de trabalhadores, redução da jornada de trabalho e redistruibuição de renda.

 

Reciclar, reduzir e redistribuir

As soluções técnicas propostas para a perda de emprego causada pelo avanço da IA envolvem as variáveis: habilidade, tempo e remuneração.

Reciclar: Os que advogam pela reciclagem dos trabalhadores argumentam que a IA irá mudar as competências que estão em demanda no mercado, então, teoricamente, os trabalhadores poderão estudar e aprender novas habilidades ao longo da vida para ingressarem em novas carreiras. E, enquanto aprendem, receberão uma renda mínima para se manterem até ingressarem em um novo trabalho.

Particularmente, acho essa abordagem pouco prática e insuficiente. À medida que a IA ocupar novas profissões, os trabalhadores serão forçados a mudar de ocupação a cada poucos anos, tentando adquirir rapidamente habilidades que os outros levaram uma vida inteira para conseguir.

Reduzir: Os defensores da redução da jornada de trabalho acreditam que a IA reduzirá a demanda por mão de obra humana, sendo assim, uma forma de absorver esse impacto seria uma semana de trabalho de três ou quatro dias. Também advogam que seria possível dividir uma jornada de trabalho de 8 horas entre duas pessoas, com cada uma trabalhando por apenas 4 horas diárias.

Redistribuir: O campo da redistribuição de renda é o mais pessimista. Eles preveem que à medida que a IA avançar, o desastre vai ser tão grande que nenhuma quantidade de horas de treinamento ou ajustes na jornada trabalho será o suficiente. Ao invés disso, precisaremos aplicar planos de redistribuição da riqueza criada pela IA para apoiar os trabalhadores desempregados. A renda básica universal (RBU) e a renda mínima garantida (RMG) são as propostas mais populares. Esse tema é tão abrangente que vale um texto próprio.

 

A simbiose nos postos de trabalho

A IA irá afetar diversas áreas de atuação no mercado. Em algumas dessas áreas, irá substituir completamente os humanos. Em outras, enquanto a IA ficará com as tarefas rotineiras de otimização, os humanos trarão o toque pessoal, criativo e humanista.

Um exemplo da simbiose entre humanos e IA é o campo da medicina. Hoje, algoritmos de IA possuem uma capacidade muito grande de diagnosticar doenças e recomendar tratamentos. Existem diversas aplicações tanto na indústria quanto na academia. Mas, mesmo que uma IA seja autossuficiente e tenha uma precisão de 100% nos diagnósticos, nenhum paciente quer ser tratado por uma máquina que fornece um diagnóstico preciso e frio: “Você tem um linfoma estágio IV e 70% de chances de morrer em cinco anos”.

A curto e médio prazo, faculdades de medicina, associações profissionais e hospitais adotarão essas ferramentas de diagnóstico como um auxílio aos profissionais da saúde.

Outro exemplo são os pilotos da aviação comercial. Mesmo que uma IA consiga decolar e pousar um Boeing 747 em segurança 100% das vezes, os humanos ainda vão querer alguém na cabine de controle. O avanço da IA envolverá também a necessidade de uma mudança cultural na sociedade.

 

Substituição total ou parcial

Há alguns casos em que a IA irá substituir totalmente a mão de obra humana. Um exemplo disso são os mercados automatizados da Amazon. Você se identifica na entrada, escolhe os produtos, coloca no carrinho e vai embora. Simples assim. O mercado possui inúmeras câmeras no teto com IA que irá identificar o que você pegou. Além disso, o carrinho também identifica quando você tira ou coloca itens nele. Depois, a Amazon cobrará o valor no seu app. É realmente muito prático. Deixo aqui um pequeno vídeo mostrando como funciona o Amazon Go.

Também há exemplos de substituição parcial. No Japão e na Coreia do Sul já existem hotéis em que a grande maioria das tarefas são feitas por robôs autônomos. Em um desses hotéis, por exemplo, são 100 quartos e 140 robôs. Somente 7 funcionários humanos estão no local para fornecer assistência em situações de emergência. Os serviços de limpeza, serviço de quarto, atendimento na recepção, transporte de bagagens e até o atendimento no bar são feitos por robôs (sim, os robôs fazem os drinks).

 

Conclusão

O ideal, para que o impacto do avanço da IA seja o mínimo possível no âmbito da desigualdade social e da pobreza, é que haja uma cooperação entre indústria, academia e governos. É preciso uma combinação entre reciclagem, redução e redistribuição.

Isso é urgente, o avanço da IA já está acontecendo. Empresas no mundo todo estão testando e validando soluções para uma implementação ampla das tecnologias. Talvez os sindicatos em alguns países resistam a curto prazo, mantendo alguns empregos, mas a longo prazo a tendência é a redução dos postos de trabalho.

Infelizmente a tecnologia avança numa velocidade extremamente maior do que a burocracia do Estado. Portanto, é imprescindível que haja uma discussão séria com propostas eficientes para um problema que é iminente.