A ciência brasileira está prestes a tomar um forte golpe que pode colocar em risco o seu desenvolvimento: o corte de 30% das despesas não obrigatórias das universidades federais. O que nos espera?
Qual o motivo deste corte? Segundo o Ministro da Educação Weintraub o motivo é a “balbúrdia”:
“Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”
A declaração deixa uma pergunta inquietante em nossa imaginação:
Até onde o ministro conhece o que acontece dentro das universidades?
Parece-me que não estudou a fundo como a ciência brasileira tem se desenvolvido, não conhece as pesquisas que nossos cientistas vêm desenvolvendo e os resultados frequentemente apresentados.
Pois, se tivesse, saberia que a ciência brasileira tem evoluído muito nos últimos anos e que estamos em um momento de grande produção, mesmo com o baixo investimento que possuímos, e não falaria tais besteiras, a não ser que tenha outro objetivo.
As três primeiras universidades ameaçadas pelo corte de verba foram a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), que estão no ranking do World University Rankings (CWRU) entre as mil melhores do mundo, além de figurarem entre as melhores da América Latina. Porém, o corte foi estendido para todas as universidades e institutos federais.
Como universidades que têm crescido nos rankings, seja da América Latina ou do mundo, podem estar a procura de outra coisa a não ser um melhor desempenho acadêmico?
A resposta é, não estão.
Como mostrado no texto da Michelle Mantovani “Quem faz pesquisa no Brasil?”, a ciência brasileira está mais ativa do que nunca:
“O Brasil foi o 13º país em quantidade de publicações na plataforma no período analisado (2011-2016) como mostrado na figura abaixo. No relatório ainda é citado que nos últimos 20 anos houve um crescimento anual na quantidade de publicações brasileiras, reflexo da recente expansão das universidades no país. Ou seja, deixando claro mais uma vez para quem ainda não tinha entendido: tem muita pesquisa no Brasil!” (Mantovani, Michelle 2019)
Este corte é perigoso pois coloca em risco inúmeras pesquisas, além de bolsas de mestrado e doutorado e talvez até o funcionamento de algumas universidades.
Mas qual o real motivo por trás deste corte? Do meu ponto de vista toda essa argumentação de mau uso do dinheiro público para realização de festas, de movimentos partidários ou nudez nas universidades faz parte de uma agenda política que busca deslegitimar as universidades públicas, a fim de fortalecer a iniciativa privada no setor da educação.
Com a inciativa privada fortalecida e um ensino tecnicista em prática, o governo pode realinhar nosso país aos interesses do capital financeiro. Interesses que se resumem a conservar o Brasil como exportador de produtos agrários e matéria-prima e dependente da importação de tecnologia.
Quanto à ciência brasileira, na verdade estamos nos saindo muito bem com o que nos é dado, o investimento é ínfimo e o reconhecimento não vem. Precisamos de mais investimento em ciência, tecnologia e inovação, pois os profissionais capacitados para isso já possuímos, e quando possuirmos o investimento conseguiremos uma ascensão gigantesca. É isso o que mais queremos, ao contrário do que acusa nosso ministro.
Concluo relatando que dificilmente se vê “balbúrdia” na universidade, mas todos os dias faltam insumos básicos, seja para o funcionamento de um laboratório, para uma aula de melhor qualidade ou (pasmem!) papel higiênico nos banheiros.
Fica como recomendação a leitura dos relatos na #MinhaPesquisaMinhaBalburdia, essa # que viralizou como forma de reação aos cortes e as falas do ministro tem diversos relatos da comunidade científica brasileira com diversos estudos e denúncias.