Pretinho ou com leite, puro ou adocicado, coado ou expresso, não importa a sua “personalidade cafelesca”, com certeza você concorda que começar o dia com esse companheiro é prazeroso e muitas vezes necessário. Se você é da turma do contra, saiba que o “pequeno” é rotina de bilhões de pessoas, que juntinhas consomem 1,6 bilhões de xícaras de café todos os dias [1]. Esse dado me fez questionar em que momento da nossa evolução começamos a consumir o café e o papel desta bebida na jornada evolutiva.
O início da história do café não é certa, as informações mais confiáveis datam sua origem na Etiópia por volta de 850 EC [2], no entanto, o consumo da cafeína, ou melhor, de compostos do grupo das metilxantinas, pode ter iniciado logo após a descoberta do fogo, com a mistura da água quente às folhas das plantas.
No grupo das metilxantinas estão a cafeína, encontrada no café, a teofilina encontrada no chá, e a teobromina, encontrada no chocolate. E um dos motivos do alto consumo dessas substâncias é o fato destas serem capazes de bloquear receptores de adenosina. Mas o que é isso?
Adenosina é a substância que dá nome a letra A do ATP (adenosina trifosfato), molécula fonte de energia do corpo. Quando o ATP é usado, a adenosina é liberada dentro da célula podendo ligar-se aos receptores. A grande quantidade de adenosina em receptores é a forma de avisar ao corpo que é hora de restaurar os níveis de ATP, ou seja, de “recarregar as energias”. Como falado anteriormente, as metilxantinas são capazes de bloquear esses receptores, mantendo assim os neurônios ativos, sem receber a mensagem de bateria fraca. Desta forma, o consumo das metilxantinas nos fez mais ativos, aumentando a motivação para o trabalho, energia, e concentração, além de provocar o atraso do sono e elevar o desempenho de vigilância em atividades psicomotoras.
Essa influência não acaba por aí, além de ajudar na vigília, a cafeína também está associada a sensação de bem-estar por aumentar a atividade dopaminérgica [3] e ainda acredita-se que em nosso processo evolutivo as bebidas a base de metilxantinas também tenham influenciado na capacidade de interação humana [4]. Como já dizia Fabrício Carpinejar: “Ele se faz de pequeno e inofensivo para deixar as emoções ainda maiores”.
Quando o assunto é sua influência na saúde, dados epidemiológicos apontam benefícios como redução do declínio cognitivo, riscos mais baixos de Parkinson e Alzheimer, auxílio na função hepática, aumento da taxa metabólica, redução no risco de desenvolvimento de certos tipos de câncer, como prostático e endometrial e diminuição no risco de diabetes tipo 2. Em contrapartida, alguns estudos mostraram que o consumo de cafeína pode causar efeitos adversos na pressão sanguínea e no colesterol sérico [2]. No entanto, o mais comumente aceito é sua relação com a úlcera gástrica, certo? MENTIRA, não há relação significativa entre café e úlcera ou refluxo. Esta suposição ainda hoje é muito comentada, porém os dados epidemiológicos não condizem com este dito [5].
Mas, se você não é dos adeptos de encontrar amigos em cafeterias ou não liga para os benefícios, o consumindo basicamente por necessidade de permanecer acordado em reuniões demoradas, saiba que o café assado médio frio é a sua melhor escolha, pelo menos quando o assunto é a concentração de cafeína, sendo esta muito superior às dos cafés quentes [6], já o sabor… Não garanto que não vai fazer uma carinha feia durante a reunião.
References:
[1] A. J. Dirks-Naylor, “The benefits of coffee on skeletal muscle.,” Life Sci., vol. 143, pp. 182–186, Dec. 2015.
[2] E. Gonzalez de Mejia and M. V. Ramirez-Mares, “Impact of caffeine and coffee on our health.,” Trends Endocrinol. Metab. TEM, vol. 25, no. 10, pp. 489–492, Oct. 2014.
[3] B. E. Garrett and R. R. Griffiths, “The role of dopamine in the behavioral effects of caffeine in animals and humans.,” Pharmacol. Biochem. Behav., vol. 57, no. 3, pp. 533–541, Jul. 1997.
[4] Angelats E, Martínez-Pinilla E, Oñatibia-Astibia A, Franco N, Navarro G and Franco R (2017) Humans and Caffeine—A Very Long Relationship. Front. Young Minds. 5:27. doi: 10.3389/frym.2017.00027
[5] T. Shimamoto et al., “No association of coffee consumption with gastric ulcer, duodenal ulcer, reflux esophagitis, and non-erosive reflux disease: a cross-sectional study of 8,013 healthy subjects in Japan.,” PloS one, vol. 8, no. 6, p. e65996, Jun. 2013.
[6] M. Fuller and N. Z. Rao, “The Effect of Time, Roasting Temperature, and Grind Size on Caffeine and Chlorogenic Acid Concentrations in Cold Brew Coffee.,” Sci. reports, vol. 7, no. 1, p. 17979, Dec. 2017.