Vi esse fantástico título em um workshop na Casa do Saber, dia desses. Não cheguei a acompanhar o workshop em si – espero que tenha sido um sucesso -, mas além do óbvio trocadalho do carilho, ele espelha bem o espírito brasileiro neste momento. Um misto de antecipação e euforia para uns, terror e perseguição para outros, mas um quase unânime e gigante interrogação com o que nos espera ali à frente.
Desde quinta-feira da semana passada estamos em um governo interino, algo que nenhum entusiasta da democracia de fato deseja. Por vezes, claro, é um mal necessário (e aqui me esquivo completamente deste debate em nossa situação atual – oras, não posso negar minhas raízes), mas ainda assim aquele bom sentimento de entrega de faixas de um presidente democraticamente eleito ao outro, de ver a instituição máxima do executivo federal funcionando em sua mais completa normalidade é algo que pode não vir a acontecer em 2018.
Mas o fato é que, interinamente, Michel Temer assumiu a presidência, dando lugar à agora presidente afastada Dilma Rousseff. Esta, por sua vez, não deixou o cargo sem acusar “os conspiradores”, “aqueles que perderam nas urnas”, “a elite” e todos as outras definições já há muito repetidas tanto pela presidente, quanto por seu partido e aliados. Poucas horas depois, Temer iniciava seu mandato (ainda) provisório, empossando um novo (e reduzido) gabinete ministerial.
De partida, é impossível não mencionar a falta de representatividade. É claro que isso, como jocosamente foi colocado, é uma formação de ministério, e não um programa infantil ou um time dos Power Rangers. Mas a questão não é essa. Estamos falando de 23 ministros sem nenhuma mulher, negro ou outra “minoria”. Isso sem contar os investigados e citados na Lava-Jato. Não que a equipe de ministros de Dilma fosse superior, mas cabe aqui a ironia maior de o presidente que assume após diversas manifestações contra a corrupção (inclusive, contra a indicação de Lula à Casa Civil, vista como manobra para “salvá-lo” de um julgamento em primeira instância) ir para exatamente o mesmo caminho.
Não fosse a mera escalação do ministério, em menos de uma semana o mesmo já conseguiu, sucessivamente, meter os pés pelas mãos. E o pior! Com assuntos, muitas vezes, absolutamente irrelevantes ou sem prioridade na agenda nacional. Já tivemos:
- Ministro da Saúde, Ricardo Barros, falando que mesmo não tendo efetividade comprovada, a fé na fosfoetanolamina “move montanhas”; no dia seguinte, questionando o tamanho do SUS e que a “saúde universal” estabelecida na Constituição Federal era inviável – e, no dia seguinte, negando ter que mexer no SUS.
- Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, defendeu que não houvesse a nomeação à Procuradoria-Geral a partir de votação entre os integrantes de carreira, dado que o Ministério Público não é um “poder absoluto”. No dia seguinte, Temer o contradisse.
- Ministro das Relações Exteriores, José Serra, subindo o tom contra as declarações de “governos bolivarianos” que criticaram o processo de impeachment e/ou não reconheceram o governo interino; além disso, iniciando um estudo para fechamento de embaixadas “não-estratégicas” na África e no Caribe.
- Ministro da Secretaria do Governo, Geddel Vieira Lima, afirmou não ser o momento para recriação da CPMF – ponto que vai de encontro à gritante necessidade de aumento de arrecadação já alardeada por… quase todo mundo.
- Ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Omar Terra, afirmou que cerca de 10% das famílias atendidas pelo Bolsa-Família poderão ser desligadas do programa após um pente-fino.
- Isso para não entrar nas polêmica relacionadas à extinção do Ministério da Cultura, “desprestígio” da ABIN, ex-futuro-ministro-da-Ciência-pastor-criacionista Marcos Pereira (hoje Ministro da Indústria) reclamando que perdeu o Desenvolvimento e o Comércio Exterior…
Não quero aqui fazer um julgamento de valor de todos os pontos acima. Há alguns debates sérios que de fato precisam ser colocados para a sociedade. Contudo, há duas questões principais que não podemos esquecer:
- Este continua sendo, por ora, um governo provisório, interino. Ainda que politicamente improvável, não é possível afirmar que se manterá para além dos 180 dias que limitam o afastamento de Dilma
- Paradoxalmente, ainda que se mantenha, é um governo que têm a metade do tempo de um mandato normal.
Por que enfatizo os dois pontos? Para reforçar a necessidade do foco maior, o causador estrutural da saída momentânea de Dilma, o que assombra a grande maioria dos brasileiros neste momento, deixando-nos na angústia já mencionada:
No final do dia, antes de tudo, acima de tudo, é a economia. E, nesta área, as escolhas de Temer parecem ter agradado bastante o mercado e tranquilizado investidores. Meirelles para a Fazenda, Goldgajn para o Banco Central, Maria Silva Marques para o BNDES – nomes fortes, de prestígio e que colocam bem claramente, logo de saída, a situação complexa que estão as contas brasileiras. Estamos em um buraco. Possivelmente mais fundo do que de fato chegou a ser publicizado. Já se fala de reforma da previdência em 30 dias (!), aumento de impostos (chama o pato!) e outras medidas de aumento de arrecadação e diminuição de despesas. Debates extremamente complexos, importantes e de grande repercussão e profundidade nacional.
São tempos incertos, esses que estão à frente. Sinceramente não sei o quanto temos que temer ou não temer o Temer.
Mas, a angústia permanece.