A Lua, nosso único satélite natural, foi o nosso primeiro alvo extraterrestre. Isto é fácil de entender. Afinal, é o astro mais próximo. Apesar de ser logo ali, os primeiros passos na sua superfície foram certamente gigantescos para a Humanidade. Brilhando e atraindo o olhar de gerações sucessivas, a Lua nos convida a sonhar.

Antes de pousarmos na Lua…

Muitas histórias pré-científicas já viam a Lua como destino de exploração: Luciano de Salmósata (125-181) foi um dos primeiros a escrever sobre isso em sua obra: Uma História Verdadeira.

Se a noite inventa a escuridão
A luz inventa o luar
O olho da vida inventa a visão
Doce clarão sobre o mar

Gilberto Gil

O primeiro filme de ficção científica que se tem notícia foi exatamente sobre uma viagem à Lua. Produzido por Georges Meliès (1861-1938) em 1902, o filme Le voyage dans la lune misturou ideias de duas obras dos pioneiros da ficção científica: Júlio Verne (1828-1905) e H. G. Wells (1866-1946).

DaTerraALua

Da esquerda para direita: Cartaz do filme baseado no livro de H.G.Wells, A esfera de Cavor e uma cena do filme de Meliès.

Verne escreveu sobre uma viagem ao redor da Lua: Da Terra à Lua (1965) e Ao Redor da Lua (quatro anos depois a continuação). Verne conta sobre três astronautas disparados dentro de uma bala por um canhão. Na obra os viajantes circunavegam a Lua e voltam à Terra. Esta história teve especial destaque ano passado por completar 150 anos de publicação.

Wells inventou, pelo menos no papel, a antigravidade no seu livro Os Primeiros Homens na Lua (1901). Nesta história os astronautas ingleses atingem a superfície lunar a bordo de uma esfera coberta de uma substância fictícia: a cavorita. Na superfície lunar os protagonistas conhecem uma sociedade de insetos baseada na coletividade total: uma colmeia.

Vários livros e filmes, depois disso, retrataram exploração lunar. Um bom exemplo disso foi bem retratado na sequência lunar do famoso filme 2001 – Uma Odisseia do Espaço de Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke. Os veículos lunares e a complexa base lunar são incríveis.

A Lua de 2001

Exploração lunar vista por Kubrick em 2001 – Um Odisseia no Espaço.

Só no final da década de 60, do século passado, tais viagens deixaram de ser ficção.

“Acredito que esta nação deve comprometer-se a alcançar a meta, antes que esta década termine, de colocar um homem na Lua e trazê-lo em segurança para a Terra”.

Presidente John F. Kennedy, discurso perante o Congresso americano 25 de maio de 1961.

Kennedy

Presidente John F. Kennedy discursando para o Congresso Americano em maio de 1961.

Isso se cumpriu em julho de 1969 com o primeiro de seis pousos bem-sucedidos na superfície lunar: o auge do Programa Apollo.  O próximo passo da Conquista Lunar seria estabelecer base permanente.

Um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade.

Neil Armstrong

Bases Lunares

Uma obra incrível é o romance de 1966 de Robert A. Heinlein (1907-1988) que recebeu o título em português pouco eloquente de Revolta na Lua (o título original é The Moon is a Harsh Mistress). Na história se descobre depósitos consideráveis de gelo na Lua que servem para cultivo hidropônico de alimentos para uma Terra faminta e superpovoada. Imagine um herói chamado Manuel, um detento de origem portuguesa dotado de um braço mecânico. Some a isso um líder revolucionário virtual e bombardeios planetários usando gigantescos estilingues eletromagnéticos. Considero uma leitura eletrizante. O argumento da existência de gelo na Lua tem fortes indícios de ser verdadeiro. No fundo de crateras próximas aos polos, onde a luz do Sol nunca bate, já se captou ecos de radar típicos de superfícies geladas. Sem estes depósitos de água a Lua nunca seria aquilo que tem grande vocação: o ponto de partida para os planetas. Mas minerar esta água lunar não deve ser nada fácil. Talvez a Lua seja mesmo uma áspera senhora.

capas

Capas do romance space opera Revolta na Lua de Robert Heinlein.

Se houver água suficiente na Lua ela será útil não só para sustentar os astronautas como servir de base para combustível de foguete (através de hidrólise liberando oxigênio e hidrogênio). Outra característica lunar importante, além da proximidade com a Terra, é a baixa gravidade: construir naves enormes a partir da sua superfície seria bem mais fácil do que a partir da superfície terrestre.

No seriado inglês de TV de 1970, UFO, descreve a Lua como a primeira linha de defesa da Terra contra invasões alienígenas. Esta defesa era realizada por uma agência secreta denominada SHADO.  Tudo sob o mais profundo sigilo numa conspiração bem ao gosto ufológico. Mas a série era muito boa tanto visualmente como em termos de roteiros.

Outra série de TV de 1975 chamada Espaço 1999, a Lua é usada como um depósito de lixo nuclear. A base lunar e as naves são sensacionais, mas a premissa básica é risível: o lixo nuclear explode e a Lua sai vagando pelo espaço encontrando planetas e raças alienígenas como se as distâncias entre as estrelas fossem pequenas. Mesmo com um argumento tão frágil os roteiristas conseguiram boas histórias.

Bases Lunares

Imagens de duas grandes séries de TV que usavam a Lua como cenário para bases lunares: Espaço 1999 e UFO.

Outra riqueza mineral que a Lua nos reserva é o Hélio 3, um isótopo não-radiativo do Hélio. Este elemento permitiriam um tipo de fusão nuclear sem radiação residual. Na fusão de Hélio3 é produzida eletricidade direto, sem precisar de turbinas a vapor e dínamos. O filme que explora essa possibilidade para criar um cenário fascinante é Lunar (2009). Recomendo muito mesmo, trata de temas de ficção científica hard com maestria.

Lunar

Cenas do filme LUNAR e capas do DVD.

Por outro lado, nem só de bons filmes lunares vive o cinema. Temos filmes muito ruins e recentes como Apollo 18 e Transformers, O Lado Oculto da Lua. Lamentáveis.

Outra vantagem econômica na Lua seria utilizar a Energia Solar de forma mais fácil que na Terra.  O dia lunar é longo: dura aproximadamente 27 dias e 8 horas terrestres. Somado a isso o fato de que seria fácil de captar uma vez que não há atmosfera para atenuar a luz solar.

Mas a Lua continua linda…

Em 1966 a sonda soviética Lunik 9 tornou-se o primeiro objeto humano a pousar no nosso satélite. Naquela data Gilberto Gil escreveu estes versos:

Poetas, seresteiros, namorados, correi
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar

Gilberto Gil

Mas a Lua continua inspiradora apesar de sua fria exploração tecnológica. Ela ainda é dos namorados. No futuro, quem sabe, casais passearão por terrenos poeirentos e áridos de mãos dadas (enluvadas) e porão suas cabeças o mais juntas que os seus capacetes permitirem. Sussurrando juras de amor pelo comunicador.