Existem certas palavras que estão na boca do povo e que vez ou outra enchem o saco. A Internet das Coisas é a bola da vez. Todo mundo embarcou na moda e promovem geladeira que tuíta, fogão que fornece receitas, lâmpadas espertas e um sem número de outras coisas puramente inúteis, só servem para derrubar o valor do termo.
Só que existe a galera que leva a tecnologia a sério, e não falo de pequenos empreendedores com boas ideias. Estou falando de gigantes como Chevron, AES, CEMIG, Microsoft, SAP. Para essas companhias a “inteligentificação” de dispositivos e processos não só é importante como essencial, representam economia na casa de bilhões de dólares por ano.
Por isso foi muito bom acompanhar as palestras da OSISoft LATAM Regional Conference 2016, realizada semana passada em São Paulo: acompanhar projetos sérios com aplicações da IoT serve como um excelente tratamento de desintoxicação de ideias fracas da galerinha do hype.
A OSIsoft é uma companhia que vende softwares operacionais para soluções corporativas, preferencialmente de grande porte (e digo grande mesmo). Fundada em 1980, ela desenvolveu uma solução integrada chamada PI System, um conjunto de softwares de coleta de dados em tempo real para análise de informações e tomada de decisões. Ele funciona de forma excelente como monitor de equipamentos industriais, dispositivos que precisam ser monitorados o tempo todo mas que muitas vezes não estão conectados.
Exemplo: numa hidrelétrica (a CEMIG é um de seus clientes) o maquinário é inteligente, desde as turbinas até os sensores que medem o nível da água desde a cabeceira dos rios que são cruciais para prever cheias e preparar a instalação para uma grande vazão de água. Em situações drásticas, decisões tomadas em tempo real representam até mesmo a integridade de uma usina (uma já foi perdida assim), e economia de milhões de reais, que podem ir para o ralo literalmente em questão de minutos.
A CEMIG, em parceria com a Simepar tiveram o desafio de converter para o PI System dados de décadas e em tempo real durante a operação das usinas, que não podiam ser desativadas. Hoje o sistema já roda em 184 pontos de operação e 40 outros mais serão conectados em breve.
Hoje dados de 274 estações linimétricas, pluviométricas, fluviométricas manuais e automáticas, em operação ou desativadas são monitoradas. Os níveis de água das barragens e a quantidade de energia gerada são usados para calcular e controlar vazão e porcentagens de volume de água útil, entre outras coisas.
A SAP também possui um case enorme. Ela entendeu que a Internet das Coisas não diz respeito apenas a coisas, mas ao todo. Pessoas e corporações também podem e serão contabilizados como parte do todo, e disponíveis para todos. Hoje uma empresa não pode se dar ao luxo de especular, é preciso ter os dados reais na mão imediatamente e lógico, isso é para poucos. A SAP é um deles.
Meva Su Duran, líder do setor de Energia e Recursos Naturais para a América Latina e Caribe da companhia, deu exemplos contundentes: até 2018 mais de 403 TRILHÕES de GB/ano serão gerados em dados pela IoT, cujos 90% deles estarão na nuvem dentro dos próximos cinco anos. E novos negócios surgem o tempo todo sem ter ativos: o Uber e o AirBNB, por exemplo, são duas empresas bilionárias que não possuem um carro ou um quarto sequer.
Essas são formas inteligentes de se utilizar a IoT, e a SAP não fica atrás. Só que dada a proporção da empresa ela aplica o princípio em setores que você sequer imagina. Este foi o exemplo de case de sucesso da empresa, em parceria com o PI System:
Sim, um trator. Obviamente que isso não é para o produtor individual, e sim fazendas com plantações gigantescas, do nível que não dá para monitorar tudo manualmente, mas é crucial ficar de olho em seus ativos o tempo todo.
A plataforma HANA e o PI System são interligados através de um conector desenvolvido em conjunto, e eis como tudo funciona: junto com a Stara, uma empresa nacional de implementos agrícolas, cerca de dez satélites GPS são triangulados e o sistema consegue uma precisão de cultivo de 2 cm, essencial para diminuir o desperdício de sementes (2% com o sistema, 11% sem). Com o HANA e o PI System da OSIsoft é possível monitorar os equipamentos em tempo real, saber onde ele está, qual a velocidade e até mesmo fazer análise preventiva, para avaliar o estado dos equipamentos.
E mais, aliado ao sistema de piloto automático, o Stara pode manter os tratores funcionando à noite, sem motorista. Em termos de produtividade os ganhos com campos preparados na metade do tempo representam economia de bilhões de dólares. Afinal, todo mundo precisa comer.
Novamente, são negócios de gente grande que é muito bom acompanharmos, até para aprender junto com a OSIsoft que a Internet das Coisas vai muito além de sua garrafa d’água esperta, que avisa quando é a hora de se hidratar.
Para saber mais: