Que o ser humano adora fuxicar a vida alheia não é novidade nenhuma. Vide o sucesso de programas de realidade (tradução tupiniquim-tabajara de “reality shows”), revistas de fofoca, podcasts e blogs sobre “celebridades” (“Caetano Veloso atravessou a rua – será que foi para chegar ao outro lado? Nossa, não podia ir dormir sem saber disso”).

E mesmo em coisas mais banais e cotidianas, como roda de conversa, que atire a primeira pedra quem nunca esticou o ouvido para tentar ouvir de qual assunto os colegas de trabalho estão falando enquanto degustam seus cafés frios, fracos e escassos? Em uma época remota da minha vida, cogitei inclusive em comprar aquele aparelho que garantia uma audição super acurada; todavia, desisti quando vi que eles recomendavam não usá-lo para escutar conversas alheias, porque isso era feio e faria Jesus chorar.

Mas, apesar do que dizem as más línguas fofoqueiras, não devemos nos envergonhar deste comportamento, digamos, curioso. Isto, é algo inerente à espécie humana e totalmente moldado pela evolução, já que cooperar com gente confiável e evitar ter seu tapete puxado por gente de má índole fazia a maior diferença entre passar seus genes adiante ou morrer tentando.

Confessa aí, todos já fizeram isso! (fonte)

Confessa aí, todos já fizeram isso! (fonte)

Nenhum fenômeno ilustra tão bem este interesse na vida alheia quanto a explosão de popularidade das redes sociais. A mais famosa, sem dúvida, é a do Marquinho, mas existem tantas outras que é quase impossível catalogar. E, como não poderia deixar de ser, existe uma rede social voltada exclusivamente para cientistas.

Pois é, cientistas, vejam vocês! Estes entes soturnos, que todos os estereótipos clássicos reputam como anti-sociais, malucos e misantropos (aprendi esta palavra ontem) se juntaram em uma rede social! Apesar de parecer um paradoxo, se usarmos uma simples lógica dedutiva aristotélica podemos inferir que: se humanos são seres sociais e cientistas são humanos (até que provem o contrário, pelo menos), logo cientistas são seres sociais. E aí, dando um salto lógico, nada mais justo do que realmente haver uma rede social voltada a eles, a nada mais nada menos do que a Research Gate, o Orkut dos cientistas (opa! parece que este já morreu. Vou procurar uma analogia melhor no próximo parágrafo).

Página de entrada do Research Gate (fonte)

Página de entrada do Research Gate (fonte)

Esta rede social, feita de pesquisadores para pesquisadores, foi fundada em 2008 por Ijad MadischSören Hofmayer, ambos médicos e pesquisadores na área médica (duh!) e o cientista da computação Horst Fickenscher. Segundo consta no “about us” do próprio Research Gate, o intuito deste Facebook para cientistas (agora acertei!) foi aproximar pesquisadores com interesses em comum para que pudessem trocar ideias, fechar parcerias, arrumarem empregos, disponibilizar artigos científicos, perguntarem e responderem dúvidas, etc. Enfim, interagir com seus pares de maneira fácil e rápida em um só local.

O cadastro é totalmente gratuito e rápido, basta criar um login e uma senha e fornecer algumas informações pessoais básicas. Nada que não seja pedido para outras redes sociais.

Atualmente, o Research Gate conta com mais de 8 milhões de usuários e já foi tema de uma série de reportagens nos últimos anos, nos mais diferentes tipos de veículos de mídia, desde revistas tradicionais (como Newsweek e Time), jornais respeitados (como The Guardian e The New York Times), sites de tecnologia (Tech Crunch) e até periódicos científicos (Science). Em português, fiz uma pesquisa rápida no “Pai de Todos” e achei quase nada, para não dizer apenas dois resultados: uma menção em português na Wikipedia e uma notícia em um site.

Bom, com este artigo que ora escrevo, mais um resultado positivo será adicionado (ou não!). É o Deviante esforçando-se para chutar bundas na divulgação científica com a mesma maestria desta japinha de coque no cabelo e saia esvoaçante.  Quem quiser conferir, segue o link para o meu perfil. Entrem no meu e aproveitem cada detalhe (mas, vamos com calma, sou moço de família!).

Este post é o primeiro de três que pretendo escrever falando um pouco mais sobre a vida acadêmica em si, especialmente sobre o processo de publicação dos resultados de anos de pesquisa. Aguardem cenas dos próximos capítulos!

Fontes: Doc Brown