Resposta rápida: porque é preciso fazer mais! Dois meses depois da cúpula (que nossos irmãos portugueses chamam de “cimeira”, será que por “cúpula” assemelhar-se à “cópula?”) realizada em Paris para se discutir como resolver os problemas atuais e vindouros causados pelas mudanças climáticas globais, não devemos ter muitas esperanças de que tudo vai ficar bem, apesar dos avanços conseguidos.
Para quem não fez nada da vida nos últimos tempos a não ser jogar DoTA comendo Cheetos bolinha o dia inteiro, explico: no último mês de dezembro aconteceu em Paris a COP 21, com o intuito de discutir os rumos das mudanças climáticas globais, suas consequências, impactos e mitigações. Ao contrário de outros, este encontro foi considerado um sucesso, já que representantes de 187 países finalmente concordaram que “o bagulho tá ruim e ainda vai piorar”. Mais informações aqui.
O problema é que este acordo gerou não muito mais do que um aperto de mãos entre cavalheiros, segundo argumenta Jen Schwartz, em artigo para o site Popular Science. Um dos motivos é muito simples: não ficou claro como os países signatários vão fazer para atingir o objetivo de conseguir manter a temperatura global média apenar 2 ºC acima dos níveis das eras pré-industriais. Não se sabe que tipo de tecnologia será usado, quais os cortes de emissões deverão ser feitos, onde serão estes cortes, etc. Segundo a autora, os passos para uma matriz energética mais limpa estão sendo dados, mas a passos perigosamente lentos.
O ser humano tem uma tendência a não levar a sério as ameaças possíveis se elas estão muito distantes no tempo. Elas só passam a preocupar quando nos atingem diretamente e aí só se pode trabalhar com redução de danos, o que é, muitas vezes, mais custoso e sofrível do que prevenir o problema. Por exemplo, todo muito sabe que alimentação errada, fumo e sedentarismo aumentam desgraçadamente a chance de cair duro com a mão no peito a curto prazo. Todavia, a maioria das pessoas só toma as atitudes corretas de parar de fumar, se exercitar e ter uma alimentação saudável quando já tem uma cicatriz na perna ou uma molinha nas artérias (e isso se você tiver esta sorte!). Deste modo, se todos concordarem que “realmente, a coisa está feia”, mas não tomarem atitudes claras para mudarem a realidade, o acordo de Paris será mais uma resolução de Ano Novo que foi adiada por falta de….(escolha sua desculpa favorita).
Outro ponto levantado pela articulista do Popular Science é que a demanda por energia irá aumentar e não diminuir. Uma vez que as previsões são de que a população mundial atinja os 9.000.000.000 (isso mesmo, bilhões! Com direito a 9 zeros) na metade do século, as demandas de energia deverão crescer na ordem de 37% pelos idos de 2040. Daí, vem o questionamento: como construir um portfólio energético baseado em fontes limpas? Diante deste questionamento, não parece nada animador saber que os Estados Unidos (ainda a maior economia do mundo e terceiro em população) estão investindo menos da metade do que a China em energias limpas (algo em torno de US$ 110.5 bilhões, o que dá em reais…não pergunte!).
Obviamente, a China tem problemas graves de poluição atmosférica, não raro o ar se torna denso o bastante para encobrir cidades inteiras, em um fenômeno chamado “smog“, mas segundo Jen, eles estão se mexendo rápido, enquanto os Estados Unidos estão em passos lentos. Isso se deve principalmente por conta de regulações governamentais e da falta de apoio da opinião pública às pesquisas com novas fontes de energia.
Devido à urgência com que atitudes devem ser tomadas e a lentidão com que as revoluções energéticas acontecem, existe um movimento tomando corpo para que se volte a pensar em gerarmos energia a partir de usinas nucleares. Pois é, bem isso aí! Nomes de peso envolvidos com ciências climáticas e tecnologia, como James Hansen (Columbia University) e Peter Thiel (sim, o cara do PayPal) têm advogado para que deixemos as barreiras ideológicas de lado e voltemos nossos olhos para novas pesquisas e o aperfeiçoamento da atual tecnologia nuclear, tornando-a menos problemática, tanto em relação aos rejeitos quanto aos acidentes. Em conclusão, a autora argumenta que ficar parado pensando no que fazer significa progresso zero no tema “mudanças climáticas”, porque não ajuda a reduzirmos nossa dependência de combustíveis fósseis. E ficar discutindo até acharmos a solução perfeita também não ajuda, já que o tempo está passando e pode ser tarde demais quando encontramos o Santo Graal.