Quem acompanha a internet periodicamente está assistindo a uma teoria da conspiração nascendo. Enquanto cientistas estão cada vez mais convencidos de que o vírus Zika está por trás de um aumento no nascimento de bebês com microcefalia no Brasil, um grupo ativista argentino de médicos em cidades que são submetidas a pulverização em suas plantações culpam esta atividade. Neste caso, os ativistas estão culpando um tipo de inseticidas do tido larvicida. Este, seria proveniente da empresa multinacional Monsanto.
Enredo adequado para criar uma teoria da conspiração.

Pequenos sites de notícias divulgaram, e, em seguida, o Washington Post publicou. O título da matéria: “Poderia produtos químicos ao invés do Zika vírus ser responsável por defeitos congênitos no Brasil?”. Aí está um segredo do jornalismo: fazer notícias em forma de pergunta. Somado a isso uma celebridade (?) twittou a notícia.

Pessoa que a matéria cita como celebridade (?) twittou a notícia do Washington Post Fonte: http://www.wired.com/2016/02/zika-conspiracy-theories/

Pessoa que a matéria cita como celebridade (?) twittou a notícia do Washington Post
(Fonte)

Rob Brotherton, o autor de Suspicious Minds, um livro teorias da conspiração, diz que o Zika vírus, por ser algo recente e com muita incerteza, é um bom tema para teorias malucas.

Enquanto os cientistas ainda não definirem o vírus como causador da microcefalia, o vazio de informação traz a tona os demônios habituais. A  conspiração do larvicida da Monsanto facilitou muito outras teorias. (Na verdade Monsanto não faz o larvicida, e a substância não é perigosa para os seres humanos.)

Incidência da infecção pelo Zika vírus no mundo em fevereiro de 2016. Evento grande mundial + pouco conhecimento do vírus = teorias da conspiração Fonte: http://www.forbes.com/sites/kavinsenapathy/2016/02/16/anti-gmo-doctors-behind-monsanto-microcephaly-link/#150f038f68fb

Incidência da infecção pelo Zika vírus no mundo em fevereiro de 2016. Evento grande mundial + pouco conhecimento do vírus = teorias da conspiração (Fonte). Saiba mais

Mas, derrubada esta teoria… então deve ter sido culpa dos mosquitos geneticamente modificados! (Não, não é) , das vacinas ou da fundação Rockefeller (não e não)

“As teorias de conspiração são, em certa medida, como nossos cérebros com os preconceitos encontram atalhos na maneira de pensar”, diz Brotherton.

Uma dessas tendências é chamado viés de proporcionalidade. Quando algo grande acontece no mundo, queremos as grandes explicações. Exemplo disso é acreditar que o presidente Kennedy não foi assassinado por um atirador solitário e pela própria CIA. Da mesma forma, pode ser difícil de acreditar que um vírus invisível pode de repente causar defeitos cerebrais muito visíveis em bebês.

Outra fonte de viés é o desastre. “As pessoas precisam de algo tangível para culpar e dar-lhes um alvo para sua raiva, ao invés de ter algo que acontece por acaso, pela força de Deus, ou por força da natureza”, diz Ted Goertzel, sociólogo aposentado da Universidade de Rutgers que estudou as teorias da conspiração na ciência. Isso justificaria o surgimento destas teorias após a OMS declarar o vírus Zika emergência de saúde global.

E uma vez que governos ou empresas se tornam suspeitos, essas dúvidas são difíceis de serem esclarecidas. É por isso que os mesmos demônios das teorias das conspirações nunca param de vir! Outro fato importante é o viés de confirmação, em que as pessoas tendem a ignorar a informação que contradiz sua visão de mundo. Um exemplo é sobre o pouso do homem na lua: apesar de existirem provas (inclusive pedras, nada mais concreto que isso) ainda tem pessoas que buscam somente argumentos que corroboram sua tese.

Por toda a parte... Fonte: http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-110131/

Por toda a parte… (Fonte)

Dado que as teorias da conspiração crescem nos cantos escuros de nosso cérebro, a maneira de combatê-los não é sempre desmascarando-as com fatos esmagadores, diz Viren Swami, psicólogo da Anglia Ruskin University. O pesquisador tem feito estudos que sugerem que as pessoas se saem melhor contra as teorias da conspiração quando dotadas de melhores ferramentas analíticas. É o famoso ensinar a pescar (pensar de forma analítica) que dar o peixe (fatos contra as teorias).

E é difícil argumentar contra o pensamento crítico, certo? A menos, claro, que as habilidades de pensamento crítico fizerem parte de uma grande conspiração para fazer lavagem cerebral…

 

Fontes: Wired

Se ainda não existe imunização contra o Zika vírus, vacine-se de conspirações com os vídeos abaixo: