Essa pergunta nos encanta quando somos crianças, nos atormenta quando estamos na metade final da adolescência (época em que começamos a sentir a angústia do vestibular). E, quando finalmente chegamos à tão sonhada universidade, percebemos que ainda não temos a resposta.

Para tudo na vida, dizem, há um plano. Não sei se acredito nisso, ao menos não totalmente. Afinal, se já há um plano, o que estamos fazendo aqui? E aquele papo de livre arbítrio, responsabilidade pelas suas escolhas, tornar-se eternamente responsável pelo que se cativa?

Na verdade, se há um Destino escrito, a pergunta do título é inútil. Querer ser algo quando crescermos, com um plano já selado e registrado, faz de nós um bando de iludidos, acreditando ter o controle de nossas vidas. Algo parecido com o Jim Carrey naquele filme o Show de Truman. Um outro modo de ver é considerar-mo-nos rebeldes, lutando contra o plano pré-estabelecido à revelia da nossa vontade, como o Neo na Matrix.

Pode ser, no entanto, que o Destino, ou quem quer que seja a entidade que está por aí tomando conta de tudo, tenha uma personalidade mais flexível. É por isso que, aos nove anos, queremos ser jogador de futebol, aos doze, bombeiro, aos dezesseis, diplomata e, por volta dos dezoito, no momento de se inscrever para o Enem, não sabemos. Tudo o que havíamos pensado ou planejado não correu exatamente como pensáramos ou planejáramos e agora, diante daquele formulário no site da faculdade, com cinquenta e oito opções, percebemos que não pensamos o suficiente e planejamos ainda menos. Isso é o que dar ter tantas opções!

Outras pessoas, por algum motivo, sabem desde pequenas o que querem e de fato conseguem. Sabe aquela história daquela menina que sonhou desde os três anos em ser bailarina e aos dezessete entra para o Bolshoi? Ou o garoto encantado por circo que treinou e hoje faz parte do Cirque du Soleil? Seriam casos de pura determinação e esforço para atingir os seus sonhos! Ou, numa visão desencantada, não passam de pessoas resignadas que aceitaram o plano e, nesse caso, representam o completo fracasso do livre arbítrio humano?

E ainda nem mencionamos quem tem a absoluta certeza do que quer ser e, depois de algum tempo, percebe que não era bem aquilo. Tipo, pesar o prato no quilo depois de ter se servido de empadão e, no meio do almoço, perceber que deveria ter escolhido a quiche. Sempre é possível voltar e servir-se novamente, mas há um preço a ser pago. No caso do restaurante, literalmente. E, claro, seu apetite já estará saciado, o que impedirá o desfrute absoluto do segundo prato.

Situação pior: você decidiu, vai estudar Direito. Pronto, cinco anos de curso, prova da Ordem, ralar por alguns anos num escritório e, quem sabe, mais à frente, se tornar juiz ou promotor. Fácil, simples e reto, não tem possibilidade de o Destino reclamar de você porque não ter seguido o plano. Mas, como Ele tem senso de humor, ou uma personalidade sádica, quando se acha ter encontrado a opção perfeita, percebe-se que ela apenas é a ponta do fio de um grande novelo de novas opções: civil ou penal? Administrativo ou trabalhista? E se eu fizer uma especialização em direito ambiental?

Afinal, porque somos obrigados a escolher? Seria melhor se pudéssemos mudar de opção a cada período de tempo: três anos como advogado, depois cinco como marceneiro e mais quatro como professor, por que não? Ou, para aproveitar melhor o nosso desenvolvimento físico na fase adulta, começar como surfista profissional, depois um tempo como palhaço de circo e, por fim, narrador de rádio?

Pensando bem, a ideia de um destino definido desde o nascimento me parece menos complicada. Da mesma forma que nascemos, crescemos e morremos, sem opções, saber desde o início que seremos padres ou bancários nos evitaria um bocado de noites insones pela dúvida ou pelo arrependimento posterior. E, ademais, teríamos sempre a possibilidade de por a culpa na Matrix.


Cris Santos é bípede, pai, botafoguense e faz um ótimo pão de queijo. Vive na Cidade Maravilhosa e, em plena meia-idade, ainda tem sonhos de vir a ser.