“Os deuses da guerra trocaram de lado”. (frase proferida por Hitler a Goebbels, em 02 de fevereiro de 1942)
Salve, salve gente amiga das Ciências!
Em seu manifesto político Mein Kampf, Hitler imaginou um território alemão que se estendia até o rio Volga…
No verão de 1941, iniciava-se assim o ataque à URSS. As unidades alemãs penetraram profundamente no território soviético. A chegada do inverno interrompeu a ofensiva, nos arredores de Moscou. Com a maioria do território europeu da União Soviética em suas mãos, o Füher arquitetava a destruição completa do Exército Vermelho. O reinício da campanha incluiria o ataque a uma das maiores conquistas do sistema soviético, uma cidade. Uma cidade industrial nova e enorme, além de um importante centro de produção de armamentos em massa, que se estendia por cerca de 50 quilômetros ao longo do Volga. Bastava dominá-la para cercar Moscou… Entretanto, no início de 1942, o comandante da 12ª Divisão de Infantaria alemã já alertava: “desde novembro do ano passado (…) há uma resistência feroz e foram feitos apenas alguns prisioneiros”… Era o prelúdio daquilo que viria a ser conhecido como “o Inferno na Frente Oriental”.
BATALHA DE STALINGRADO
(agosto de 1942 a fevereiro de 1943)
A cidade já havia sido reduzida a ruínas pelos ataques aéreos da Luftwaffe antes que o 6º Exército do general Friederich von Paulus iniciasse a tentativa de tomar Stalingrado, em setembro de 1942. O general Vasilii Chuikov, comandante do 62º Exército soviético, tinha ordens para resistir a qualquer preço. Suas tropas combateram os alemães, que avançavam rua a rua, prédio a prédio, com o rio Volga as suas costas. Os alemães eram os mestres da blitzkrieg, mas não estavam adaptados à luta lenta e ao desgastante corpo a corpo nos escombros de uma cidade arruinada.
O exército alemão fora projetado para lutar na Europa ocidental e central, terra com densa rede de boas estradas, muitas cidades e inúmeras propriedades rurais. No entanto, foi parar nas estepes russas, em imensos gramados com poucas estradas, quase todas miseráveis e com grandes distâncias entre os acampamentos. A história da 98ª Divisão Wehrmacht registrou:
Suprimentos eram transportados pelo rio à noite para os soldados soviéticos, que transformaram fábricas e edifícios destruídos em verdadeiras fortalezas. Aliás, os russos aprenderam rapidamente a adaptar suas técnicas à nova situação, e cada movimentação dos alemães lhes custava caro. Para impedir que os alemães explorassem sua superioridade em Artilharia e Força Aérea, Chuikov fez com que seus comandados “abraçassem” o inimigo, com os dois lados lutando dentro de um mesmo prédio. O episódio da Casa Pavlov, já analisado aqui no Deviante pelo amigo Prof. Barbado, é icônico. Atiradores de escol obtinham resultados impressionantes. Mesmo quando as tropas alemãs alcançaram o Volga, em novembro, não conseguiram romper a resistência do Exército Vermelho.
Enquanto isso, o comandante soviético Georgi Konstantinovich Zhukov (o arquiteto da defensiva de Leningrado e Moscou) havia preparado um contra-ataque expressivo, a Operação Uranus. Em 19 de novembro, as forças soviéticas ao sul e ao norte de Stalingrado romperam linhas defensivas mantidas pelos romenos e outros aliados do Eixo. Em quatro dias, fecharam o movimento de pinça por trás do exército de Paulus, cercando-o. Hitler ordenou a seu general favorito que sustentasse a posição e continuasse a investida, recebendo suprimentos pelo ar. Mas a Luftwaffe não dispunha de aeronaves de transporte suficientes. Paulus comunicou por rádio que precisaria de 700 toneladas de materiais por via aérea. O comando geral alemão diminuiu essa quantidade para “300 toneladas realistas” e mal conseguiu fornecer 60 toneladas. Em dezembro, as forças soviéticas ao redor da cidade rechaçaram uma tentativa alemã de romper o bloqueio e socorrer o exército encurralado. A linha de suprimento aéreo tornava-se mais e mais precária, à medida que o inverno se aproximava. As tropas alemãs passaram a conviver com a escassez de comida, de munição e combustível.
Na terceira semana de janeiro, o 6º Exército alemão estava fadado à derrota. Sofrendo enregelamento e desnutrição, os soldados de Hitler mal conseguiam lutar. Paulus solicitou permissão ao Führer para se render, foi prontamente recusada. Em compensação, Hitler promoveu Paulus a marechal de campo. Era um aviso, pois nenhum marechal de campo havia se rendido a um inimigo até então. Em 31 de janeiro, no dia de sua promoção, Friederich von Paulus apresentou a rendição. A última resistência alemã caiu em 2 de fevereiro. Dos 110 mil soldados alemães feitos prisioneiros em Stalingrado, menos de 5 mil sobreviveram.
Vale a pena lembrar: a Batalha de Stalingrado foi um banho de sangue. Dois exércitos alemães foram completamente dizimados, incluindo suas reservas. Mais de 300 mil homens treinados haviam sido perdidos. E eles eram insubstituíveis. Conta-se que conforme os prisioneiros eram retirados do front, um coronel soviético apontou para os escombros e bradou, com raiva, para os capturados: “É assim que Berlim vai ficar!”. Foi um terrível golpe no moral alemão. Com a destruição do 6º Exército, a ofensiva alemã na URSS havia terminado. A maré mudou, e o Exército Vermelho acabaria empurrando a Wehrmacht de volta para Berlim e além. No cativeiro, a maré também havia virado para Paulus. Antes, um dos generais favoritos de Hitler; como prisioneiro de guerra alemão, ele incitava contra o Führer. Se eles não selassem a paz, alertava ele, toda a Alemanha se tornaria uma “gigantesca Stalingrado”. Ele se juntou ao “Movimento Alemanha Livre”, apoiado pelos soviéticos, lançando apelos à Wehrmacht para desistir da luta. Depois da guerra, ele testemunhou no Tribunal Militar Internacional de Nuremberg. Após sua libertação, em 1953, ele se estabeleceu na então Alemanha Oriental, falecendo em Dresden, em 1957.
Para quem gosta de cinema (eu gosto!!), há filmes interessantes sobre a temática. Stalingrad (em português Stalingrado – A Batalha Final), de 1993, do diretor Joseph Vilsmeier, conta a história de um batalhão do 6º Exército alemão (filme realista e muito fiel à história). Enemy at the Gates (em português com o inexplicável título de “Círculo de Fogo”), de 2001, do diretor Jean-Jacques Annaud, segue o padrão hollywodiano, com rostos conhecidos como Jude Law, Ed Harris e Rachel Weisz. A película retrata a história do atirador de escol Vasili Zeitzev, jovem dos Urais, alçado à condição de herói da União Soviética. Há romance, disputa da mocinha e um final feliz na medida do possível para os amantes. Mas mostra situações interessantes e reais, como a batalha entre os escombros, com os dois exércitos ocupando pavimentos diversos dos prédios, a importância e o prestígio dos atiradores de escol, os civis morando nas ruínas, o uso da propaganda na guerra. Por fim, a série “Generais em Guerra”, da NatGeo, é recomendadíssima! Especialistas militares atuais dissecam o conflito, verificando armas, recursos e estratégias de cada uma da forças envolvidas, concluindo como a vitória foi obtida.
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