Foi um massacre evitável. Apicultores do Condado de Dorchester, na Carolina do Sul, EUA, viram 48 de suas colméias serem simplesmente dizimadas do dia para a noite. O responsável foi um pesticida pulverizado a partir de um avião, que tinha o objetivo de matar os mosquitos que podem ser transmissores do vírus Zika.

E é aqui que toda a ignorância humana começa a reinar. Primeiro que a população de mosquitos da Carolina do Sul ainda não é conhecida por transportar o vírus. Em resposta a 4 casos de Zika, simplesmente as autoridades de Dorchester resolveram que iriam acabar com o problema usando as próprias mãos, utilizando o pesticida conhecido como Naled, uma neurotoxina que mata mosquitos adultos e outros insetos. Mas, ao que parece, as autoridades desconheciam – ou ignoraram – o fato de que nenhuma das quatro pessoas infectadas pelo vírus tinham adquirido o Zika localmente, todas elas foram infectadas fora da Carolina do Sul.

Como se não bastasse, ainda que o vírus estivesse presente na região, existem inúmeras maneiras de se acabar com os mosquitos sem afetar – muito – o resto do ecossistema. Segundo Mark Latham, diretor do Controle de Mosquitos do Condado de Manatee, na Flórida, as abelhas poderiam ser poupadas da pulverização caso a mesma fosse efetuada no horário da noite, ao invés do horário da manhã, como foi realizado o infeliz procedimento. “A pulverização aérea poderia ter sido bem mais eficaz se fosse feita pouco depois do pôr do Sol. As abelhas geralmente voltam para suas colmeias bem antes disso”, diz ele. Como as abelhas não voam à noite, e como o Naled só mata insetos enquanto eles estão no ar, esta simples mudança teria evitado todo o massacre.

Quando pulverizado, o Naled paira no ar sob a forma de gotículas, e é por isso que insetos em vôo são vulneráveis. Uma vez que o pesticida se instala no chão ou em plantas, rapidamente se decompõe e torna-se inativo. Então, realizar a pulverização em um momento que os mosquitos estão ativos mas as abelhas não, seria a melhor e mais segura maneira de efetuar o procedimento.

A pulverização aérea fez com que o apicultor comercial Juanita Stanley perdesse 46 de suas colmeias, enquanto um apicultor amador perdeu mais duas. “Claro que isto é uma tragédia”, diz Michael Weyman, da Universidade de Clemson, Carolina do Sul. Qualquer ação que cause a morte de abelhas em massa é particularmente preocupante, dada a fragilidade das populações de abelhas em geral. “Uma vez que a pulverização tenha matado as abelhas, muito provavelmente ela também matou abelhas silvestres e outros agentes polinizadores”, diz Aimee Code, diretor do programa de pesticidas da Xerces Society for Invertebrate Conservation. A morte das abelhas comerciais é apenas mais fácil de notar, já que as selvagens são majoritariamente solitárias.

Ainda segundo Michael, usar substâncias que atacam as larvas (e não os mosquitos adultos) poderia também ser mais eficaz, já que os larvicidas são mais seguros para as abelhas. “Utilizar adulticidas é, em certo sentido, um método de último recurso, se você não matou os mosquitos quando larvas. Por exemplo, eles poderiam ser utilizados na Flórida, onde os mosquitos estão claramente espalhando o Zika. O que aconteceu na Carolina do Sul parece que foi mais baseado no medo. Precisamos planejar com antecedência, não reativamente”. Fácil falar isso depois de toda a besteira ser feita.